sexta-feira, 30 de julho de 2010

MAR NORTENHO - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/07/30) Do livro: (A editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


MAR NORTENHO


Umas vezes dócil, outras “raivoso cão”
Mas sempre amado, por quem te conhece já;
E quem te lança sua primeira expressão,
Sente enraizar-se por ti, tal emoção,
Que talvez dificilmente te esquecerá.

Essa tua amizade tão cara me enleia,
Sabe mar, dos meus enormes contentamentos,
Porque ao estender o corpo, na tua areia,
Tu crias-me certas sensações de sereia,
E sinto-me como sendo ela, por momentos!

Mar nortenho, como tu sabes ser brejeiro,
Quando a tua maré, está em calmaria,
Rasgo o teu corpo, delirando com teu cheiro,
Acreditando-te seres o pioneiro,
Da mais intensa fragrância a maresia!

E também dás, encantamentos verdadeiros,
-Tu mexes-me com outros órgãos sensitivos -
Quando transformas tuas vagas em morteiros,
Atirando os teus espúmeos salineiros,
E que nos soam a tiros inofensivos.

Na tua areia, numa tarde de lazer,
Na minha juventa, ansiosa procurei,
Búzios, para castiço colar fazer,
Que no pescoço exibi, com grato prazer,
Então nos restantes dias, que em ti, gozei.

E foi nessas barracas de riscados,
Onde eu também alegre moça, tanta vez,
Lá dentro dormi alguns sonos sossegados,
Além de fazer minhas rendas e bordados,
Para depois um dia casar-me, talvez...

Mar nortenho, só encontro em ti, um senão,
É que algumas vezes - mas sem teres maldade,
Manténs com forte vento estreita ligação;
Todavia tens sido o meu mar de eleição,
Desde a minha feliz e inocente idade.

Esse vento na sua amizade tão franca,
Ai que ele até te estraga com os seus carinhos:
Porque faz-te essas ondinhas de espuma branca,
Um cenário que aos pensadores encanta,
Que ondinhas assim, parecem-lhes carneirinhos,

Oh mar das minhas recordações tão queridas,
Poder-te-ei jamais, na doce vida olvidar?
Se numas férias de Verão, merecidas,
Fizeram pacto pró futuro, duas vidas,
Com tua viril presença, a testemunhar?!


Póvoa do Varzim - 1977

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