sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ROMÂNTICA QUARENTONA, DE FIBRA - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/10/29 -) Do livro: (a editar) " RELANCES DUM OLHAR"


ROMÂNTICA QUARENTONA, DE FIBRA

 

Jamais sua alma vende, nem aluga,
Nem que lhe torçam mesmo, até um pulso;
Tendo por galardões a cã e a ruga,
Sem a seus compromissos, fazer fuga,
Mais por pensar, agindo, do que impulso.

Sempre avessa a ignomínia e a malícia,
Porém sem subestimar, um bel-prazer;
E destrinça a carícia, da sevícia;
Crendo no peito o amor, como “estrelícia”,
Sujeita, a um próprio prazo de viver...

Logo, se de atração, lhe chega a hora,
 E se é que ela preveja uma envolvência
Tem de bom senso, a par, carga emissora;
E assim, a quarentona, não ignora,
Do amor, ventura, ou risco de falência.

Por tal, de peito aberto a um conformar,
– Ou com pés em terra, essa “flor” regando,
Sempre ciente, que possa “murchar” –
Em ramerrame, vai “deixando andar”,
De cada vez um dia, desfrutando.

2009

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O ERMITÃO - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

O ERMITÃO


Sem tolas pretensões de grande vulto,
Mantém o bom humor sempre na proa;
Alcançando o que quer – jamais á- toa
Por certo inconpatível com tumulto.

Tendente à bonomia e ao indulto,
-Bem mais que resplendor ou que coroa -
Almeja em desposar uma ermitoa,
Para ao lúbrico bem, dedicar culto.

Antes poucos amigos, que má súcia,
Conclui, ao escolhê-los – à minúcia
Assim este bom homem - tão isento;

E oposto, ao maneirismo tosco e bruto,
Lá fuma calmamente o seu charuto,
O seu único vício e atrevimento.


2009

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O PINTOR E A VATEL- ( O POEMA DA SEMANA-2010/10/27) Do livro (a editar) " RELANCES DUM OLHAR"


O PINTOR E A VATEL

Numa velha cozinha, entre higiene,
Uma hábil moça, agita manivela
Duma máquina, dada ao querosene,
Em vista a um bom arroz de cabidela.

Seu amante, de empenho assaz solene,
E a provar-lhe afeição pura e singela,
– Sem rogar que entremez alguma, encene –
Eis que pinta a carvão, o afazer dela.

Só que o petróleo acaba em má maré,
E há que ela acender achas, com canseira;
P’ra se servir do pote com tripé;

P’ró amante também, labor dobrado,
Pintando-a então às voltas na lareira,
Sobre o pote, em que acaba o cozinhado

2010

UMA ANCIÃ, NA VERDURA DA SILAC - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

UMA ANCIÃ, NA VERDURA DA SILAC*


Grande alegria, em si, evidencia
Uma certa anciã, de saia solta;
De foice numa mão, em graça envolta,
E com enorme saca, então vazia.

À erva lá começa, a dar razia,
E ao panorama então, reviravolta:
Com espaços pelados, tendo à volta
Grandes leitugas, (que ela arrancaria)

Pegou na saca, encheu-a da verdura
Sentindo-se repleta de ventura
Que não dobrara em vão, os seus joelhos

Que essa anciã, sagaz e diligente
Colhera da Silac* um bom presente:
Um complente manjar, p'ra seus coelhos

2002
*Sociedade fabril que existiu,: O edifício estava eregido num terreno,de belas e ancestrais árvores,circundadas por relvado. Tal edifício transformou -se em ruinas, ressalvando-se-lhe o arvoredo e muito do verde; no entanto, pela relva ter deixado de ser cuidada, foram nascendo em seu permeio, espécies espontâneas: carrajós, leitugas - entre outras.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

UNS AMORES DE DESPERTADORES - ENTRE SEXTA E SÁBADO-2010/10/22 - Do livro: (a editar) "DA RÚSTICA MUSA,QUE PASSA"



UNS AMORES DE DESPERTADORES

Em férias
I

Todas as manhãs, tenho como bem certinho,
Um agradável gosto - quando rompe a aurora,
Que é escutar das folhas, o froufrou mansinho.

O repicar dos sinos, mais me revigora,
Causa-me um Angelino e doce despertar,
E o culto da fé, me agradece, ou  implora!

Mas antes de meus pés em  tapete lançar
Eis que muito me encanta, algo já costumeiro:
É uma desgarrada em jeito popular;

E feita pelas aves, cá de um galinheiro,
Que  - em  eco de abortar qualquer boa soneca -
Dão "asas" a tal gosto - assim em cativeiro. -
II

: - Vós sois oh criaturas, levadas da breca!
Desses vossos pulmões, quase que sinto inveja,
Nesse cantar assim, poreis goela seca.

: - Despeja oh garnisé tua raiva, despeja!
Assim forte peru - que muito estou gostando
Impõe direitos franga  e alto cacareja!

: - Continua assim galo, à tua grei mostrando
Que não deitas por terra, essa tua coroa
E o desrespeito espantas, sempre assim cantando

III

No começo do dia, assim uma pessoa
(Incentivada ser por tais despertadores)
Não esmorece não, antes levanta a “proa”;
Quem é que à natureza, contesta os valores?

1992

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O RECLUSO DO AMOR - Do livro: (a editar) " RELANCES DUM OLHAR"

O RECLUSO DO AMOR


Afirma ser do amor, como um recluso,
Quando dirige a moça, galanteio;
E crê muito prazer de vida, escuso,
Bastando do vital, um remedeio.

-  Aclimatado assim, por crer do abuso,
O inferno abarrotando - de  tão cheio … -

“Mais simples o  amor sendo, maior bem”,
É o seu mais caro verso, de refrão;
Crendo que mais-valia, sempre advém,
A quem a um verso assim, dará função.

- Que vê, muito "além-dor” tornar-se “aquém”,
E em muitas turvas coisas a razão! -


2009

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

UMA EXEMPLAR DE BELEZA TOTAL - ( O POEMA DA SEMANA- 2010/10/20 ) Do livro : (a editar)" RELANCES DUM OLHAR"


UMA EXEMPLAR DE BELEZA TOTAL


Ela suscita, unânime conceito,
Pelo seu raciocínio, em cada altura,
Sem nunca andar, a torto e a direito.

Mas "passos", só os dando, bem segura.

Nas “escovinhas” - sempre em equilíbrio -
Jamais nelas derrama, ilusão bera;
E antes prefere, um grato e são convívio,
De que uma solidão em forma austera...

E sem exagerar num regozijo,
Nem mesmo deixar-se ir em “lengalenga;”
Leva a que a creiam, de íntegro juízo,
Em vez de fantasista, doida ou trenga…

E causa mesmo, em muitos que comove,
A ilação, de consenso incontestado:
Que a fase dos dezoito aos dezanove,
É da vida o primor mais sublimado!


2009

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O DESLUMBRADO PLAGIADOR - Do livro: (a editar) " DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

O DESLUMBRADO PLAGIADOR


– Face a um deslumbre em mítica fase –
Um Romeu, entre livros é achado,
Com o passional plágio, atarefado,
E em papel passando muita frase…

– E sem que o discurso vete ou atrase,
Ou mesmo, fique um pouco preocupado,
Que se acaso esse abuso, comprovado
Seja de represálias, fulcral base –

É um contra-eruditismo sem sufrágio,
Que torna, quem comete assim tal plágio,
Em sectário da fraude cabalística;

E no caso, uma escrita plagiada,
Culminará em prosa, exacerbada...
Ato de hipocrisia, na logística!


2009

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DUM INÚTIL VOO DE ROMEU - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/10/15 ) - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


DUM INÚTIL VOO DE ROMEU
I
Se enamorado, e muito circunspecto
Suspeitando de ser tempo perdido
Nessas nove horas de voo directo

'inda mais (por amor) tão mal dormido
E com a alma assim nesse receio
De seu amor, não ser correspondido

Posto em terra, da moça o hirto seio
E a sua cheia boca – um doce favo
Tiveram logo dele, olhos em cheio

Porque a boca, essa tinha amargo travo
Pois do aterrar, até ao “frente a frente”
Quanto a cigarros, já ia no oitavo…
II
Queria uma resposta, nem que algente
P’ra a sua muito lógica proposta
Da virgem pertencer-lhe inteiramente

Azar seu, que ela a isso não disposta
Deu-lhe no intento, corte radical
- Subentendendo nele, regra imposta -

E assinar um contrato, tão formal
“Soava-lhe” a prisão”; – do assunto o cerne –
P'ra si, liberdade era crucial,
Já que ia trabalhar num bar de alterne.
2009

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

AL-MARA, ENTRE O ALGODÃO, E COISAS DE OUTRO PESO- ( O POEMA DA SEMANA - 2010/10/13 ) Do livro : (a editar)" PROPENSÕES MUSAIS"


(ALGURES NUM PAÍS QUENTE)

AL-MARA, ENTRE O ALGODÃO, E COISAS DE OUTRO PESO


Quer do algodão, colhendo boa rama,
Quer a lidar com seu cabrum rebanho,
Lá faz de sua  granja, o bom amanho,
Al-Mara – obreira e campesina dama.

É há sempre muita gente, que a reclama;
Por saber-lhe, só raro tema, estranho,
E após guardar sachola mais gadanho,
Ela (nem sempre janta) vai pr’a a cama;

Se lestas suas mãos, sobre o algodão,
Na granja e pastoril labutação,
Outras funções, se dignam em cumprir;

E Al-Mara,  de sono, às vezes, mortinha,
Os campos, atravessa  co’á malinha,
P’ra auxiliar, aquando um parturir.

2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

COLAGENS POÉTICAS

DUM ROMEU MAIS INCERTO, QUE SEGURO - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

DUM ROMEU MAIS INCERTO, QUE SEGURO


Por ser mais a incerteza, que o talvez,
Dela aceitar, recíproca envolvência,
Somente lhe sorria – e com decência,
Já que de algo mais, tinha timidez...

Insónia e depressão de quando em vez,
Por sentir-se atraído em consciência;
Saber-lhe do ar sério, tinha urgência,
Se era inato, modéstia ou malvadez.

E se quem não arrisca, não petisca,
Mesmo vendo-a fazer-lhe vista-grossa,
Um pouco a medo dela se aproximou;

Que sorrindo-lhe íntegra, em vez de arisca,
Ao coração dele – com tanta “mossa” –
Num repente, da "fossa" o levantou!

2010/03/29

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

NOTURNA MELOPEIA, NUM CORETO ( ENTRE SEXTA E SÁBADO -2010/10/08 ) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"




NOTURNA MELOPEIA, NUM CORETO


Um belo italiano assaz franzino
– Gozando de uma idade já vetusta –
Pugna por ser de Orféu, bom paladino;
Exigindo violinos em atino,
Com uma disciplina quase augusta.

Que uma parte da gente da cidade,
É sempre recetiva a atrativo;
E p'ra satisfazer curiosidade,
Ignora de dormir sentir vontade,
Achando ser em prol de bom motivo.

Um tal vulgo, tão justo quanto austero,
Mantém esse seu rígido opinar,
E nem a temp’ratura de grau zero,
Constituirá motivo forte e vero
P’ra haver antes do fim, um debandar.

Só que pretensa diva do distrito,
No intervalo, lá sobe a curta escada;
E após ter desdobrado um papelito,
Solta toada – então “último grito”,
Mas com voz a par'cer cana rachada…

Estragando da ária, a boa tónica,
Que - além de muito ter desafinado -
Com voz tremendamente cacofónica,
Cantou, cantou até tornar-se afónica,
E o povo dispersar, desalentado…

2009

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O SONHO DA MATRONA - Do livro: ( a editar)"RELANCES DUM OLHAR"


O SONHO DA MATRONA


Tornada em quimerista, uma matrona,
Pugnava por cumprir só bom adágio,
E sempre afugentar cada presságio,
Que fosse no bom senso, uma intentona.

E aquando então em sesta, na poltrona,
Exercitava a voz – como em estágio,
Para um dia tornar-se-lhe apanágio,
Na ópera o sagrar-se a prima-dona,

Que a vida que levava, era de “estoura”,
E à noitinha – da enxada e da vassoura,
Tinha seu pobre corpo, num cangalho;

Urgia-lhe saber – e com urgência,
Desse seu sétimo ano, a equivalência,
Por ser-lhe a idade um ás, p’ra o tal trabalho!

2009

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A SUPERSTICIOSA - (O POEMA DA SEMANA -2010/10/06) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


A SUPERSTICIOSA


Tendo em ilusões fortes, investido,
- Porém delas temendo uma falência -
Acorria à matriz, com persistência,
Dando ao terço e missal, grande sentido.

Um dia - após de casa ter saído -
Teve antes do sermão, alguma urgência,
De ir à fonte; mas dela a irreverência,
Pôs-lhe o vestido ao corpo bem cingido…

Como a sair do rio, uma medusa,
Par’cia a moça a rir e tão confusa
Que caiu entre mato e brava urtiga;

E - sendo ou não crendice de “chicote”-
De entre o busto, saltou-lhe p’lo decote,
Do mais puro azeviche, enorme figa!
2009/12/30

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

COLAGENS POÉTICAS

O NOVO-RICO - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

O NOVO-RICO


Basta apenas, que os dedos ele estale
Para acatá-lo o pai, o irmão e o primo;
E ao lançar prepotência lá, do “cimo”,
Nunca encontra, quem proteste ou o cale.

Toleram-lhe seu finca-pé e mimo,
E até o amparam, sempre que resvale…

Por ele, alguns agrados, se restringem
E por vezes, com custo mesmo grande;
Para que o nervosismo, nele abrande,
Dispõem-se a ser eles, que transigem.

E nem todos sabendo, alguém expande,
De um tal acatamento, a sua origem…

2010

"ETNIAS": (MODELAGEM) ÍNDIO PRIMITIVO - Peça de parede



1983

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MARIA DA FRAGA - (ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/10/01) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


MARIA DA FRAGA


Sem que labor algum lhe cause estigma,
Não vai em maus prenúncios de coruja…
Nem tem medo de esfinge nem enigma.

Sem afã que a assuste e a que fuja,
Evidencia orgulho e á maneira,
E por nada seu corpo ou as mãos suja…

Dada à filantropia de alma inteira,
Lá cria alternativas de amplitude,
Mostrando-se tão útil quanto arteira.

Muito á vida dá graças - e a amiúde,
Pela felicidade, que vai tendo,
E pelo entendimento e a saúde.

Só que no seu servir, tão estupendo,
P'ra além do neutralismo em jeito   amável,
Pelo meio, alguns podres vai colhendo...

Porém mantendo a pose inalterável,
Até no que aconselha e sobreavisa;
  - Frutos de um  raciocínio insofismável.-

E com algo de mestra e de juíza,
Se em prol do semelhante, muito exsuda,
Não se queixa, nem autovaloriza.

E as boas atitudes, nunca muda,
De impulso positivo, sempre em cena,
Com incondicional e pronta ajuda.

Dona assim de presteza, não pequena,
E de humildade feita em mais-valia,
Mantém uma auto-estima assaz serena.
Essa exemplar da própria bonomia!



2009/09/15