quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FIM DE FÉRIAS, COM SAFRA E DESFOLHADA - Do livro: (a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"

FIM DE FÉRIAS, COM SAFRA E DESFOLHADA

I
Lá andam caracóis em brando gozo,
Sobre o tanque, espigueiro, muro e eira,
Deixando-lhes ficar, rasto baboso.

A minhoca, pesquisa a lamaceira,
O cogumelo, atrai o visionário,
E vão-se juntando achas, p'ra a lareira.

Tiram-se as lãs, da arca e do armário
Que o clima, descerá sua  “escalada”,
Por causa do asanhar do calendário.
II
Fim de férias, com safra e desfolhada
Onde à visão simplista visão, e mesmo à lupa.
O poeta, lança às musas, uma olhada;

Porque a plêiade, em breve , se reagrupa
E após dos tertulianos, bons abraços,
Trovas irão sair, em catadupa,
Novos “frutos” dos velhos calhamaços.

2009

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

LEMBRANÇA DO CAMPO (O POEMA DA SEMANA - 2010/09/29) Do livro: (a editar)"VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


LEMBRANÇA DO CAMPO

Tornar o galinheiro, mais catita,
É minha autoproposta e meu desejo,
E se é que o bebedouro, então despejo,
Limpo as fezes – do galo e da franguita…

Abro a cancela, sai a comandita,
Numa tal confusão de cacarejo,
 E quase se  atropelam, em festejo,
No percurso p’ra a zona, circunscrita.

Há galinha, há galo, há franga pedrês,
Nesse ambiente género montês,
Do meu quintal, tão belo, quão minhoto;

E da galinha, a crista vermelhinha,
Além de sua pele, amarelinha,
São-me uma tentação, p’ra arroz maroto!
2009

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SUPERMERCADO, EM FIM-DE-SEMANA - (ENTRE SEXTA E SÁBADO -2010/09/24) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


SUPERMERCADO EM FIM-DE-SEMANA

Como no mar, os peixes em cardume,
É muita fila dum supermercado;
Ora ali, um suspiro, ora um queixume,
Ora mesmo, expressão de certo enfado.

- E pode alguém dizer que tem ao lume,
Uma sopa, um cozido ou um guisado.-

Logo, razão, assim deveras forte,
E ainda poucas compras a obstar,
Equivalem a duplo factor-sorte,
Para alguém no caso mesmo repensar.

- Se partindo de quem pouco se importe,
De perder com a troca de lugar. -

Contudo, toda a fila dá ensejo,
A alguém, nela estando presente -
Soltar boa piada ou bom gracejo,
E mirar de alto a baixo, algum cliente...

Ou de consumar um e outro bocejo,
Enquanto “carneirinhos” conta, em mente.

Se há quem não seja adepto do alarido,
Por pouco, até há quem lá se desmande;
Achando espera assim, não ter sentido,
E coma uma bolacha ou uma sande.

Também auscultador há, em ouvido,
E quem com isso tenha um gozo em grande!

E entre quem desabafe, do revés,
– Quem suspire, perante tais vagares –
Há por vezes, alguém, contra banzés,
Que sinta ter urgência de outros ares…

Preferindo a- caminho, pôr seus pés,
Após repor artigos, nos lugares.
2009/09/26

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A BATALHA SANTA, DO LAGAR - ( O POEMA DA SEMANA - 2010/09/22 ) Do livro: (já editado) " ESTRO DE MULHER"


A BATALHA SANTA DO LAGAR

Oh estação bizarra, em delírio me abandono!
Porque teu doce carisma, é de “inebriar”
Mas o que nele, mais me maravilha, Outono,
É sempre, essa batalha santa do lagar!

Ledos soldados, co’a coragem por abono!
Marcando seu passo, a marchar, sempre a marchar;
E, por vezes, correndo a pontapé o sono,
Em prol da glória, de seu árduo batalhar!

Pés-à-obra, com calças arregaçadas,
Cada uva, é um mudo tirinho a estalar,
Porque o cala o “ sangue”, doutras já vitimadas….

Beber desse “sangue”, será grande bonança!
E saber que algum dele, ocupará – no altar –
O cálice da nova e eterna aliança!

1989

TRÊS DEDINHOS DE CONVERSA


Só muito raramente, deito coisas recicláveis, ao lixo. E o exemplo são as sertãs que vos apresento, que já não estando a cumprir em pleno sua missão, reciclei-as, tornando-as de objectos utilitários, a decorativos.
Às primeiras que assim fiz, coloquei-lhes no fundo, um prato. Postas na parede da sala de jantar, foram um verdadeiro sucesso e alguém seguiu a ideia que eu tivera.
Porém, isso era apenas o começo da temática de tal reciclagem, que entretanto novas ideias me surgiriam, só lamentando, não ter mais velhas sertãs em casa. Logo que tal, em vez de colocar-lhe um prato, no círculo redondo da mesma, fi-lo eu própria. Enquanto a massa estava "verde", coloquei-lhe algumas peças, que já tinha feitas, pintando e envernizando tudo depois.
Mais tarde, noutra velha sertã, encontrei motividade para, após estar seco o prato que nela construí, desenhar-lhe motivos, que também pintei.
E o certo, é que o assunto não ficará por aqui, porque outras coisas criativas poder-se-ão fazer, partindo do fundo duma velha sertã, assadeira ou até forma de doce: poderá aplicar-se-lhes: (no caso de se lhes pôr massa-cerâmica) conchas de mexilhões, búzios, entre outras coisas do mar. Ou então simplesmente, no fundo da velha peça (assim de lata ou metal) ir colando matéria-prima seca: nozes, castanhas, avelãs e até, pequenos e curiosos paus. Após tudo bem colado, é a vez do verniz, de preferência em spray - de rápida e prazerosa aplicação.
Depois dele secar (em segundos) é só pendurar o arranjo, numa parede da cozinha, da sala, ou mesmo da cave.

EXEMPLARES DAS ALUDIDAS SERTÃS



MAIS DUAS EXEMPLARES





Quando o prato da sertã é por nós elaborado (por ex. foto da esquerda) ter-se-á que colocar por trás dela, dois arames cruzados e em que suas pontas atinjam dois bons centímetros à frente, (sob a borda) bem cingidos, para depois espalhar-se-lhe a massa-cerâmica, que fará o prato. Esta deverá abranjer bem essas pontas dos arames, isto para que o prato, depois de seco, não tenha tendência a descolar-se da sertã e até cair ao chão. Quem não queira arames, poderá passar à volta (entre ele e a sertã) um fio de cola. No entanto é mais seguro e definitivo, com os arames.
Se fôr um prato que já se tenha, (por ex. foto da direita) esses dois centímetros das pontas dos arames, terão de avançar, indo ter à borda do prato, cingindo-as cuidadosa e firmemente. Pontas-travões, que ficarão visíveis, o que no fundo sai vantajoso, para poder tirar-se o prato, para lavá- lo, ou para variar, pondo outro diferente.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

DUM VETERANO E SERRANO PASTOR ( ENTRE SEXTA E SÁBADO -2010/09/17 ) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


DUM VETERANO E SERRANO PASTOR
I
Sempre com a manada em atenção
Lá tem da relva e sombras complacências
Aquando o pastoreio de verão.

E põe em uso, suas preferências:
Na leitura de um livro ou de revista
Rádio portátil ou outras valências.

Contudo, tendo sempre bem em vista,
O seu velhinho e prático cajado
P’ra intimidar um membro mais grevista...
 
Seja ovino, que fuja p’ró silvado,
Seja caprino dado em mais azelha
Fazendo-o passar um mau bocado...
II
Se a sua face ao sol, fica vermelha
O instinto às vezes dá-lhe o parecer:
De chegar um jarrinho a uma ovelha.

Que já habituada a lhe valer
– Mercê do pastoreio lhe agradar –
Anui, a de seu leite, ele ir colher.

E após um bom remanso e ruminar,
Eis cumprida assim, mais uma jornada,
Enquanto o sol começa a desmaiar...

Logo, um a um contados, da manada
Ovinos e caprinos  - não sem ralhos
Com o seu pastor, lá vão de abalada,
Ante algum bramo e coro dos chocalhos.

2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O EXPEDITO PERSPICAZ - do livro: ( a editar)"RELANCES DUM OLHAR"

O EXPEDITO PERSPICAZ


Nunca algum agente ao censo seu escapa,
E à minúcia, analisa-lhe  a linhagem;
Diferenciando o bom couro, da napa,
O distinto sabor entre ostra e lapa,
E a bebida, da mera beberagem.

Se  acaso, há falha ou erro, que ele veja,
Alerta, sem entrar nunca em contenda;
Quanto ao versátil, tem-no de "bandeja"
E um rol de ideias, a mente lhe chameja,
Para em coisas o acerto ou a emenda.

Defende inter-ajuda organizada,
– Para o acelerar de um bem, em vista; –
E quando opinião lhe é formulada,
Nunca mostra expressão desagradada,
Mas anui – sem intento oportunista.

2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

APÓS UM ROÇAR DO MATO, NA CHARNECA - ( O POEMA DA SEMANA-2010/09/15 ) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


APÓS UM ROÇAR DO MATO, NA CHARNECA

Lá toca um veterano, sua flauta,
E a seu lado, outro toca o oboé;
Nonrando  bem honrado o lamiré,
Num tocar só de ouvido e não de pauta.

E eis que o anfitrião – pessoa cauta
Bem sabe compensá-los, olaré;
Na forma de um bom frango em fricassé
Entre mais coisas - sobre mesa lauta.

Que p'ra  além do braçal labor, excelente
- Desses ágeis comparsas, na charneca -
Encantaram com a tocata empírica;

E findo o lamiré – e ao “dar ao dente”–
Fizeram rir, "pintando bem caneca"
Com chalaça, tão boa, quão satírica!
2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O PERFECCIONISTA - Do livro: (a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"

O PERFECCIONISTA


Naquilo em que tem lauta sapiência,
Sabe pôr-lhes a mais justa etiqueta;
E no que ignora - diz  em consciência,
Que pouco sabe ou não entende cheta...

- Embora digno até de reverência -
Se na assembleia, cai inepta treta,
Com certa habilidade de prudência,
Discretamente lá se põe na alheta.

Amante da esquadria e da bitola,
Muito na fronha a mente  ele rebola,
Face a qualquer tenção, pouco exequível;

E dentro da medida, egocentrista,
Longe de ser mais papa que papista,
É sim perfeccionista, ultra sensível!

2010

sábado, 11 de setembro de 2010

RECICLAGENS E RESTAUROS

1998
Velhos talheres colados, numa velha forma de lata recoberta a zarapilheira devidamente (colada e pintada)

RECICLAGENS E RESTAUROS

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O DISTRIBUIDOR DE GÁS - (ENTRE SEXTA E SÁBADO -2010/09/10) Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


O DISTRIBUIDOR DE GÁS

Quer seja de botija às costas ou na mão,
Que grande ternura, me inspira esse rapaz;
Será mister, ter titânico coração,
Para abraçar essa penosa profissão,
Que é a de fazer a distribuição de gás.

Com o rosto pela chuva ou sol batido,
Calejadas mãos e retesados tendões,
O distribuidor de gás – um rapaz sofrido –
Quantas vezes haverá ele reflectido,
Que a sua, é uma das mais árduas profissões?

Tantas escadas ao dia, a ter de subir,
Já que tantos andares há, sem elevador;
Quantas vezes, nós lhe vamos a porta abrir,
E nos diz: bom dia ou boa tarde, a sorrir,
Com o semblante reluzindo de suor?

- Que é por todos sabermos, sem contestação,
Quanto a subida de escadas é duro galho,
Que entendemos de sua pena, a dimensão,
E ainda co’esse peso às costas ou na mão,
Durante as suas normais horas de trabalho! -

Quantas vezes a nosso lar, ele nos traz,
Duma só vez, uma botija em cada mão?
Quantas vezes, esse corajoso rapaz,
Chega até nós, com duas botijas de gás,
Patenteando uma arfante respiração?!...

E é bem verdade um enorme sacrifício,
Cinquenta e cinco quilos, é de dar quebranto;
Todavia, ele verá nisso, um benefício,
Que consegue fazer duma vez, duplo ofício
E menos escadas lamentar portanto.

Mas certamente a sua maior arrelia,
- O maior “galho”, da profissão que escolheu -
É quando nos elevadores há avaria,
Ou não actuam, por carência de energia,
E tem de subir escadas de arranha-céu…

Aí, então, é que esse valoroso rapaz,
Sente bem o sabor do fel e a dor do acanto:
Aí, ele é mais que um distribuidor de gás,
Ele é bem similar ao Soldado da Paz,
Porque faz algo de herói e também de santo!

Por isso, de botija às costas ou na mão,
Inspira-me grande ternura esse rapaz;
Faz-me pensar e amolecer o coração,
E louvá-lo, por abraçar tal profissão,
Que é a de fazer a distribuição de gás!

1991

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O "MANEL DAS VINHAS"- ( O POEMA DA SEMANA- 2010/09/08 ) Do livro: (a editar)" RELANCES DUM OLHAR"

O “MANEL DAS VINHAS”


Se é que alguém o Manel monopoliza
Terá ao dispor, um grande apoio;
Que com seus dons braçais se mobiliza,
Já que aflições que tais, bem avaliza,
E lida mais co’o trigo, que co’o joio.

Como tal, lá se entrega em consciência,
Velando a bel-prazer, o sacrifício,
Num labor, de uma íntegra envolvência!

Não é com pouca coisa, que se assusta,
Que se irrita, aborrece ou se baralha;
Num sorriso, de quem pouco lhe custa,
O Manel, a qualquer labor, se ajusta
Quer seja na vindima, poda, ou malha.

E ao ancião, de força de vontade,
– Que é um “braço direito”, em aflição –
Quem é que diz ao certo, a sua idade?!

2010 /04/08

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

CHEGOU O SETEMBRO - (ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/09/03) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


CHEGOU O SETEMBRO


As parras, são tal qual leques, mercê do vento
E as uvas, estão no seu fim de gestação;
Filomena, canta e encanta, a dado momento,
Donairoso canto – com o seu sentimento –
Preiteando Baco, p’la sua criação!

As vides, são serpentes, de ingénua intenção,
Levando-nos às verdadeiras tentadoras;
E uma Eva ou Adão – Sensível á tentação –
Não se apraz, só com os olhos comendo…não,
Que arranca um cacho, dessas belas sedutoras!

Graças frescas, vão sendo seleccionadas,
O moço e a moça, afinam bem as suas rimas;
A alegria, alentará caras transpiradas,
‘Starão, tradição e trabalho de mãos dadas,
Se cumprirá, mais um ritual das vindimas!

E os pipos e batoques, se vão preparando,
Cestos e cestas, passar-se-ão a contar;
Se a lida par’cer dura, a fé vai ajudando,
Que escada acima, escada a baixo – labutando–
Hav’rá garra e sabedoria popular!

Logo o “torna cesto” e o “não torna” costumeiro,
Se ouvirá, ecoando, pelos vinhedos fora;
E o Zé, contará com presunto, do fumeiro,
Com broa e com vinho velho – mas bem gaiteiro –
Que lhe obsequiarão, perante a devida hora!

O lagar, virará um palco de esplendor!
A arte e destreza dos pés, serão demonstradas;
Num ritmo certo, co’o instinto por professor,
– E sem que algum tenha intentos de vencedor–
Só pararão, com as uvas, todas pisadas!

E não só eles, acabarão envaidados,
Que os anfitriões, também irão caprichar,
Pois todo o labor e perícia elaborados,
Serão bem revigorados e compensados,
Ninguém abalando, sem um farto jantar!

Por fim, felizes, voltarão a seu cantinho,
E – na certeza, que ninguém se mostrara fraco –
Acreditarão, ir à provada do vinho,
– Cada artesão, se tornara um adivinho –
Porque muito se honrara o generoso Baco!

1991

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

MANUSCRITOS - De quadras, para os livros: (a editar) "PENSAMENTOS (EN)QUADRADOS I/II"

RASGOS DE TRADIÇÃO - (O POEMA DA SEMANA -2010/09/01) Do livro ( já editado) " ESTRO DE MULHER"


RASGOS DE TRADIÇÂO


Volta Maria, do pomar, de abada cheia,
(Ante risonha, perspectiva, que a abona)
– Que ricas merendas, que fins de almoço e ceia –
Quem não se renderá às graças de Pomona?*

E para os marmelos, outro rumo, a norteia:
– Que soberba de fruta, até mesmo na tona –
Ela a virará, em marmelada e geleia,
Maria e peneira, irão andar, numa fona!

Que orgulhosa, que ficará, depois Maria!
Que belas cores, nos peitoris, das janelas!
Que bom o solzinho, curando a doçaria!

E até abelhas (gulosas como são elas)
Viverão seus momentos, de grande alegria,
Sugando o papel vegetal, dessas tigelas!
1991