sábado, 31 de julho de 2010

sexta-feira, 30 de julho de 2010

MAR NORTENHO - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/07/30) Do livro: (A editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


MAR NORTENHO


Umas vezes dócil, outras “raivoso cão”
Mas sempre amado, por quem te conhece já;
E quem te lança sua primeira expressão,
Sente enraizar-se por ti, tal emoção,
Que talvez dificilmente te esquecerá.

Essa tua amizade tão cara me enleia,
Sabe mar, dos meus enormes contentamentos,
Porque ao estender o corpo, na tua areia,
Tu crias-me certas sensações de sereia,
E sinto-me como sendo ela, por momentos!

Mar nortenho, como tu sabes ser brejeiro,
Quando a tua maré, está em calmaria,
Rasgo o teu corpo, delirando com teu cheiro,
Acreditando-te seres o pioneiro,
Da mais intensa fragrância a maresia!

E também dás, encantamentos verdadeiros,
-Tu mexes-me com outros órgãos sensitivos -
Quando transformas tuas vagas em morteiros,
Atirando os teus espúmeos salineiros,
E que nos soam a tiros inofensivos.

Na tua areia, numa tarde de lazer,
Na minha juventa, ansiosa procurei,
Búzios, para castiço colar fazer,
Que no pescoço exibi, com grato prazer,
Então nos restantes dias, que em ti, gozei.

E foi nessas barracas de riscados,
Onde eu também alegre moça, tanta vez,
Lá dentro dormi alguns sonos sossegados,
Além de fazer minhas rendas e bordados,
Para depois um dia casar-me, talvez...

Mar nortenho, só encontro em ti, um senão,
É que algumas vezes - mas sem teres maldade,
Manténs com forte vento estreita ligação;
Todavia tens sido o meu mar de eleição,
Desde a minha feliz e inocente idade.

Esse vento na sua amizade tão franca,
Ai que ele até te estraga com os seus carinhos:
Porque faz-te essas ondinhas de espuma branca,
Um cenário que aos pensadores encanta,
Que ondinhas assim, parecem-lhes carneirinhos,

Oh mar das minhas recordações tão queridas,
Poder-te-ei jamais, na doce vida olvidar?
Se numas férias de Verão, merecidas,
Fizeram pacto pró futuro, duas vidas,
Com tua viril presença, a testemunhar?!


Póvoa do Varzim - 1977

quarta-feira, 28 de julho de 2010

AO ASTRO REI - ( O POEMA DA SEMANA 2010/07/28) Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"

AO ASTRO REI

Resplendoroso sol, estrela, tão bemquista,
Delírio da devesa, do prado e quintal;
Por ti, quase que chora andorinha e pardal,
Dás à seara e à eira, atrativo fulvista!

Sem idade, és Adónis em feliz conquista,
Teu portento é  musal e também carismal,
Pois que basta  de ti, haver leve sinal,
Para que um beletrista, algures, não resista!

E no Verão, se o mar está bem reverente,
Batendo em suas águas esse teu vigor,
Elas parecem tela em vidro, transparente;

Lá no seu seio, as algas castanhas, imersas,
Ante esse teu veemente brilho – teu fulgor,
São rubras “veias”, em novelos ou dispersas!
1990/02/20

sexta-feira, 23 de julho de 2010

TRÊS DEDINHOS DE CONVERSA

Caro leitor

A partir de certa altura deste meu blogue, começou a nortear-me a ideia, de que era uma pena não publicar, além dos sonetos e outros (relativamente ) pequenos poemas, também alguns de dimensão maior e por certo de interesse comum.
Claro que poderia fazê-lo, mas teria de ser duma maneira especial, que não a de, inserir entre os sonetos e esses de tamanho similar, algum ou alguns então maiores; Achava que o ideal, seria arranjar uma forma, de fazê-lo, mas num aparte, para que o leitor ao estender o olhar de cima a baixo, e (perante sobretudo tantos sonetos) não pensasse: que deselegância... Entre tanta "pequenada", assim para aqui, este ou estes "grandalhões"... (E eu estaria plenamente de acordo, com esse seu julgamento)
Mas o assunto, não me largava a cabeça, enquanto ia lembrando e lamentando que poemas, tão curiosos e originais tivessem que ficar aquém blogue, por causa disso.
Teria de inseri-los aqui, que mo apelava, a própria razão.
Eis que a ideia se me foi reforçando e hoje mesmo de manhã, com as ideias frescas, resolvi, que não abdicaria do prazer de publicá-los; sim iria fazê-lo, e sem estragar o cenário logístico da questão.
Criei uma nova rubrica (ENTRE SEXTA E SÁBADO) que a exemplo de outras, possui um "carimbo" personificado. É para esses poemas, se maiores, também por certo de formas variadas: em tercetos, quadras e quintilhas.
Cada um deles, será precisamente editado, entre sexta e sábado, ou seja, não o sendo na sexta, se-lo-à no sábado. Ele marcará a diferença, entre a rotina semanal, dando-lhe um culminar especial.
Desejando um bom fim-de-semana, agradecendo toda a atenção na sua leitura deste meu blogue, e tentando fazer dentro do que me é possível, por corresponder-lhe às expectativas, declaro-lhe leitor, a minha sincera estima.


Maria do Sameiro Matos


A autora

QUEM É ELE? - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO-2010/07/23) - Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


QUEM É ELE?

É um respeitável e eloquente “senhor”,
DE visual dogmático – glacial,
Com voz cava e sonoramente imperial,
Mas encerrando uma alma, repleta de amor!

Esse “senhor”, que é de todos e de ninguém,
E que consegue impor respeito por demais,
É ancião, que, na história, faz anais,
Mas conseguindo manter-se novo, porém!

Habita em espaço aberto, como importância,
Já que nele, não há portas, nem há janelas,
Nem há muros, nem grades, nem sequer cancelas,
E assim, espalhando longe sua fragrância!

Para grande conforto de seus visitantes,
Esse nobre “senhor” com seu aspecto herege,
Se dotara de criar, alcatifa bege,
E de grânulos mui soltos e aliciantes!

Por conseguinte, até o mortal mais distinto,
Se sentirá por demais honorificado!
E – com pés descalços ou até mais desnudado –
UsufruirÁ dela, mandado pelo instinto!

E se algo mais quiser fruir ou contemplar,
Ele não será confrontado com tarifa;
Basta-lhe somente p’ra isso – essa alcatifa
Se disporá, verticalmente atravessar.

Assim fazendo, a certo ponto notará,
O quanto esse “senhor” tem de bonacheirão;
Que lhe dispusera um comprido tapatão,
E que certa ataraxia lhe causará:

Fresco tapetão e de beleza invulgar!
De algas, de diferentes formas e tamanhos,
Em tons: verdes, beges, roxos e ‘inda castanhos,
Além de lembranças p’ra ele então guardar!:

São búzios, mandados por tão gentil “senhor”!
“Senhor”, com uma grande generosidade!
E para o mortal dele mais sentir saudade,
À mistura, ainda, alguns “beijinhos” de amor!

Póvoa do Varzim-1989

quarta-feira, 21 de julho de 2010

VIRAGEM SIMPÁTICA - ( O POEMA DA SEMANA- 2010/07/21) Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


VIRAGEM SIMPÁTICA

A vivência é de nós a douta escola;
E um sonho, que é demais reiterado,
Por vezes só se faz concretizado,
Se a gente desse anelo, se descola...

Quando cheio de dor, o ego rebola,
Sobre um subconsciente exp’rimentado;
E por seu lado,um cérebro abrasado,
As ilusões destrói ou mágoa “empola”...

Pndo a  motividade sorumbática,
E mesmo crendo a fé um contratempo,
Ou sobre esse “terreno, um vão adubo”;

Eis que se dá viragem bem simpática,
Tornando essa tal fé, 'inda a bom tempo,
Ante gaudio a dobrar, ou mesmo ao cubo!

2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

O LAGO JUNTO À ESTRADA- PINTURA

HÁ MELÕES, PERTO DO LAGO - Do livro: (a editar) " DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


(Durante o Verão)
HÁ MELÕES, PERTO DO LAGO


Devido à adustência do Verão
As criaturas com corpos transpirados,
Acabam tendo os hábitos mudados,
Por causa da semi-sufocação.

Como formas fulcrais, de solução,
Lá acorrem a sombras e  relvados ;
Nutrindo-se de frios e gelados ,
E de fruta com mais liquefação.

Como o melão cascudo, e já tão glório,
Que perto de um lago é transacionado,
Com seu aroma, ao longe, bem notório;

E dos cisnes cortando, a extravagância,
Do odor – que o Verão põe agravado –
E que cheira a bons metros de distância!...

2009

PELO VERÃO À TARDINHA - Do livro: (a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"08/01

PELO VERÃO À TARDINHA
(No lago junto à estrada)

O repuxo lá se eleva no ar,
Caindo no lago e agitando o lodo;
E na margem, lavando cada godo,
Emprestando-lhes ledo rebrilhar.

Cá fora, as folhas que o sol quis secar,
Varre-as o vento de tosco modo;
Não as deixando indif´rentes de todo,
Porque o frou-frou, passa-se a escutar.

E as ondinhas feitas pelo repuxo,
São p’rós peixes, um verdadeiro luxo,
Dormitando em mansidão impecável;

E os cisnes com os bicos entre as asas,
Também lá vão passando pelas “brasas”,
Na sua “indumentária impermeável”.

2008

OS CISNES EM CORRIDA PEDESTRE - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

OS CISNES EM CORRIDA PEDESTRE
(No lago junto à estrada)

Esse repuxo em tréguas, deu nuances,
De como sendo em terra, bem batida
Cisnes irem de pé, fazer corrida,
Após abrirem asa, para lances.

E - como ao próprio instinto, dando chances
P’ra comum objectiva ser cumprida -
Um deles, gorgitando, deu partida,
Sem algum de porfia, dar relances.

Em fila bem ordeira, os corredores,
Facultaram visão de deslumbrar
Aos peixes desse lago - a assistência -

E - sem vencidos ver, nem vencedores -
Havia alguém p'ra a nova ir espalhar:
Eu própria, por repórter da ocorrência!

2009

quarta-feira, 14 de julho de 2010

CIRCUNSPECTA REFLEXÃO - ( O POEMA DA SEMANA-2010/07/14 ) Do livro: (a editar) " PROPENSÕES MUSAIS"


CIRCUNSPETA REFLEXÃO


Se é que urge uma "limagem" acertiva,
Convém alma robusta e mente astuta;
Que quem nos tropeções muito matuta
Também mais atrai, ânsia depressiva.

Tornando a consciência como gruta,
Com o eco de uma acusa punitiva,
Por algo, idealizado ou feito à bruta...

Por um exercitar, de empenho incerto,
Com sonhos as pender p'ra o devaneio;
E alentos quase exangues – p’lo receio;
De eruditismo tido, apenas perto...

Sendo para o sucesso, um remedeio,
O não criar oásis, num deserto
Mas fazer coisas, só: “meio por meio”...
2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

TRÊS DEDINHOS DE CONVERSA



Estimado leitor

Se tenho um prazer indescritível em pintar, criar e fazer minhas tentativas de escultura, não tenho menos, em reciclar ou restaurar o que quer que seja, por muito obsoleta que a peça se me apresente e/ou quase irremediavelmente partida ou com ruptura.
Como exemplo, citarei o caso dumas velhas latas de cozinha, que embora intactas, no que concerne ao estado do material, encontravam-se porém, há décadas inactivas e como tal bastante oxidadas mesmo. Eram duma familiar, que jus a ser bastante conservadora, tinha-as num canto duma arrecadação. Estariam assim aí, à minha espera?
Por certo, quando as vi logo pensei, que muitas pessoas não hesitariam em deitá-las fora. Contudo, também nesse momento, aumentou a minha coragem, a minha forte razão para uma auto-aposta que por isso mesmo fizera.
Após lixá-las, em vez de pintá-las a cores pitorescas e com temas de cozinha (frutas, verduras, plantas culinárias ou coisas que tais) fi-lo a cores sóbrias e simples traços.
Depois de devidamente prontas, pendurei-as num escaparate adaptado ao caso e em vez de colocá-lo assim com o "novo trem decorativo" num canto da cozinha, pu-lo sim, num canto mas da sala de jantar. É que na cozinha, com a passagem de algum membro da família e consequente roçagem numa ou outra lata, havia a iminência dela poder cair sobre a tijoleira do chão, amassando; e embora eu pudesse tentar pô-la como era, além de ser um trabalho por certo delicado, poderia mesmo acabar debalde, além de estar sujeita a poder acontecer o mesmo, a mais peças do conjunto, o que seria uma pena.
Que bem que ficou o escaparate com a latoaria, nesse canto da sala de jantar! É que se a seu lado, existe um armário pintado, em cores similares ao conjunto em questão, a sala tem as paredes pintadas na cor amarelo-torrado, que harmoniza lindamente com as cores da latoaria, onde entre elas, existe o dourado. Como tal, o conjunto, ficou muito melhor à beira de paredes assim, do que dos azulejos claros da cozinha. Para mais, se alguma lata se soltar do escaparate, (o que é quase impossível por o conjunto estar num canto, longe da passagem) subsiste a perspectiva de não amassar, mercê do chão ser em madeira.
As visitas teceram e continuam a tecer-me elogios, pelo que há de curioso, tanto nas cores, como modelos das peças, o próprio escaparate e local onde se encontra. Claro que serão unânimes, porque muitas de tais peças, se são de usar na cozinha, são também de ir à mesa da sala. Como exemplo citarei ( de entre outras coisas) os dois bules.
Aproveito para lembrar, que o lema do aproveitamento do que parece inútil e com o mínimo de despesa , me serviu de logótipo de panfletos publicitários para exposições que tenho feito.
Como exemplo: APROVEITAMENTO + POUPANÇA, = A ARTE! ( Aproveitamento mais poupança, igual a arte)
A autora

Maria do Sameiro Matos


VELHAS LATAS COM NOVA PLÁSTICA

PINTURA ELABORADA ENTRE 1 e 6 DE ABRIL DE 1998




























Pelo facto de na sala existir pouca luz para favorecer a fotografia, em vez de lá fotografar o escaparate com todas as latas penduradas, prescindi dele, fotografando preferencialmente ( e na cozinha) alguns elementos de cada vez, resultando por isso em mais que uma foto.
Por conseguinte, devido a serem relativamente poucos elementos de cada vez e a franca luz solar na cozinha, dá para analisar melhor, cada peça.
De curioso e do facto, coincide, verem-se os tais ajulejos claros da cozinha e de que falei, no precedente " TRÊS DEDINHOS DE CONVERSA" Poderá portanto, o leitor ver o efeito das peças perante eles, e imaginar quão melhor (ou pior) estarão então, perante as paredes, amarrelo-torrado, da sala.
Obrigada.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

TRÊS DEDINHOS DE CONVERSA


Caro leitor

Conhecer credos, costumes, apetências e atitudes comportamentais de várias camadas da sociedade, é deveras importante para todo o escritor. Mesmamente importa sobremaneira (no caso de haver um ou mais personagens no artigo a que o mesmo autor se propõe tratar) pugnar por estabelecer de antemão, um diálogo aberto, uma entrevista, nem que sumática, para analisar-lhe/lhes, o vocabulário e reacções pessoais, fazendo a par, associação de ideias, com o intuito de encontrar resposta para o porquê de coisas, enigmas, mistérios ou pseudo-mistérios do mesmo ou mesmos personagens em causa. Isto ajudá-lo-á a encetar com desenvoltura e razão de ser, seu trabalho escrito, numa perspectiva de feliz desfecho.
Embora considerando minha escrita mais do tipo clássico, e fruto duma certa inquietação responsável, duma auto-exigência de primar por um sensato e dentro do possível temático e elaborativo fino gosto, jamais desdenho duma boa musa rústica; pelo contrário, acho mesmo que todo o autor, deverá variar naturalmente sua performance quanto a escrita; deverá dar azo á sua propensão musal momentânea, deixando como que uma marca de apetências ou repulsas e um ajuizar pessoais.
Insistindo em manter um rigor de estilo ( uma constante constância) quando a musa o incita a variar, é como auto-espartilhar-se.
Por mim, gosto de deixar as coisas correrem naturalmente, e por conseguinte acompanho a onda do momento.
Adapto-me bem a tudo que a musa me reserva e surpreende. Na verdade creio mesmo que não poderia dedicar-me a um só estilo.
Deixo aqui ao leitor estes três sonetos rústicos, que no meu entender servirão para quebrar, se a rotina da minha escrita, consequentemente a da sua leitura, no que concerne a este meu blogue.
Espero que goste e tenha bom fim-de-semana.

1º- O ACANHADO INFRACTOR

2ºLEMBRANDO O RANA ENGRAXADOR

3º POESIA DE VIDA DO GALINHEIRO

A autora

Maria do Sameiro

O ACANHADO INFRACTOR - Do livro: (A editar) "RELANCES DUM OLHAR"

O ACANHADO INFRACTOR

Dar-lhe ou não esmola, era meu dilema
Por a solidão, ser seu mal maior;
Só que no asilo era algo agitador
E teve de sair – cumpriu-se esquema.

Como tal, dormia em miséria extrema,
Envolto em curto e frágil cobertor;
E com mais de acanhado, que de infractor
Nesse átrio de acesso ao velho cinema.

Desconheço onde dorme então agora,
Sei que por lhe deitarem  trapos fora
Da rua, observa o átrio, revoltado;

Fecharam-no com grades e ferrolho,
E então sem uma perna e sem um olho,
Ele aprende a lidar com o seu fardo...

1995

LEMBRANDO O RANA ENGRAXADOR - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

LEMBRANDO O RANA ENGRAXADOR


Sempre de carraspana, em carraspana
Andava o conhecido engraxador;
Porém no polimento, era um primor
Cumprindo seu propósito, o bom Rana.

E gracejava com muita fulana
Sem nenhuma o achar abusador;
Riso inocente e rosto, com rubor
Num então débil ser, vício sacana...

Quase sempre era visto com cigarro
Tendo voz  de ressaca e com catarro
E aquele ar, de quem quer, mais um copinho;

Eu lembro assim o Rana engraxador
Que tinha mais que a tudo ao vinho, amor
Que o Céu o tenha lá num seu cantinho.

POESIA DE VIDA, NO GALINHEIRO - Do livro: (a editar) " DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

POESIA DE VIDA NO GALINHEIRO


Quando a galinha muito cacareja
E há um galo a fazer-lhe galanteio;
Exige-lhes o instinto um devaneio
Já que o multiplicar se relampeja.

Ave fêmea, sem nada, que a proteja
Lá se abandona ao galo, sem receio;
E tendo mais valor, ganho“torneio”
Quantos mais rivais haja de sobeja.

Logo que encrespe as penas, está choca
Para mais, se com rasgo de engenhoca
Busca palha e tem grave cacarejo

Ovos no ninho, e dela um calor brando;
Bem asinha, pompons, então piando.
Como fazendo à vida, seu festejo!

2009

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O GOSTO DA GLÓRIA - ( O POEMA DA SEMANA 2010/07/07) Do livro: ( a editar)" PROPENSÕES MUSAIS"


O GOSTO DA GLÓRIA


Agente,obreiro, artífice ou arrais,
Se porventura à lida então disposto,
No caso de atingir sonhado “cais”
– Quer com  algum  suor, ou por demais–
Sentirá, da missão cumprida, o gosto!

Sabe bem  o quanto ela tem  de eclético
 - Que sua própria crítica é um crivo...-
E pode mesmo achar como hipotético
Que - pelo seu suor e empenho estético -
Seja celebrizado, e ainda em vivo.

Auto-estima, por certo imaginável
– E louvável -se não der em " excesso" –
Fruto de alma sã e alma  impecável;
Factores de intenção insofismável
Unidos, em intrínseco processo.
2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

TRÊS DEDINHOS DE CONVERSA


Estimado leitor

Por altura do centenário da morte do escritor de Ceide (1890 - 1990) por nada perderia a oportunidade de poder adquirir, algumas etiquetas e carimbos do correio, referentes ao facto.
Instintivamente subentendia, que seriam o ponto de partida, dum género de preito, que eu iria fazer a esse grande homem das letras, que além de romancista, foi também poeta - Camilo Castelo Branco.
Após ter colado em folhas de meu livro de manuscritos, essas pequenas e rectangulares etiquetas de papel (enquanto depois acima delas um funcionário da PT local, colocava a meu pedido, um carimbo, inerente ao acontecimento) o mesmo fiz em folhas A-4. Iria deixar depois nesse livro de manuscritos e folhas para máquina, então o meu sentido preito a Camilo, na forma de poesia.
Do intento, resultaram-me seis poemas, tipo soneto, com a particularidade duma liberta metrificação.
Embora tendo feito, mais tarde, o sétimo soneto, resultando-me em feliz evento, não tive à minha mercê, as tais etiquetas de papel; e o carimbo estava arquivado em Lisboa.
Mesmo por certo, de escrita sentidamente cativante como a dos precedentes, acabei contudo por considerá-lo um pouco limitado - mais pobre em relação aos seis, por não ter a etiqueta nem o carimbo.
Hoje, bem tentei então colocar cópias da original meia dúzia, no blogue, mas logo a letra se me evidenciou de tal maneira minúscula, que não fui capaz de ler algo, por mais que tentasse, concluindo de facto, que não existe grande empatia entre o computador e a escrita à máquina.
Portanto, optei por publicar aqui tais escritos, que escrevera então à mão e à máquina, há vinte anos, mas em woord e com as respectivas etiquetas e carimbos na forma de cópia.
Termino interrogando-me: E esses meus originais, serão relíquias, ou nem tanto?

A autora

Maria do Sameiro

MENSAGEM A CAMILO ( DO MEU PREITO A CAMILO )

MENSAGEM A CAMILO

Os pedaços da tua alma e vivência, que em Ceide deixaste
Nessa casa, hoje museu, estão frescos e espalham idolatria
E o escadario que tantas vezes, com tua verve avançaste
Parece sempre novo, e hoje mais seus degraus, são serventia.

A tua querida e bela acácia tão velhinha, ‘inda vai vivendo
Marcada por dentro com a saudade e o desalento da solidão
Estigmas bem mais profundos que aqueles do fogo horrendo
Que teu Jorge lhe causara, com a sua funesta e insana acção.

Todavia, ‘inda hoje dá flores rubras tão terna e bela anciã
E também ‘inda bate na janela, só que bem triste e agoniada
Par’cendo uma desesperada musa, chamando-te em sofrimento;

É que não a tratas, nem mais uma tarde, uma noite uma manhã
E essa velhinha, que fôra outrora por ti, criança tão mimada
Sente-te dentro dessa casa, em cada recanto, cada aposento.
1990/04/23

PERMITE-ME MESTRE CAMILO ( DO MEU PREITO A CAMILO )

PERMITE-ME MESTRE CAMILO


Dizer-te que teus escritos, deixaram mais rico Portugal!
Que são bem, património de nosso grande contentamento
E que na tua morte te levantaram, tornando-te imortal
Pois logo “ressuscitaste” p’ra nossa alma e pensamento.

E que se bem importante é idolatrar, tua figura perenal
Bem justo é comemorar o centenário de teu passamento;
Mas também em cada escritor, em cada poeta, é fundamental
Honrar-te, seguindo tuas exemplares sombras de talento!

E quando o letrado, a colina da glória então escalar,
Quer seja em romance, narrativa ou poema que escrever
Te faça em plena paz soltar como que um feliz vacilo;

Dessa maneira, será mais completa a homenagem a te prestar
E cada palavra sua, soará como um subtil, um salutar ranger
Salutar ranger, duma “costela” herdada de ti, Mestre Camilo!
1990/04/19

A CAMILO E SEU ESTILO (DO MEU PREITO A CAMILO )

A CAMILO E SEU ESTILO


Obrigada oh romanesco escritor de expressão aberta!
Bravo oh satírico e polémico “galalau” do poetar!
Pois temperaste com lirismo e ironia, em dose certa
A tua peculiar arte: A das camadas sociais retratar.

Logo que uma terna Egéria, viesse teu ego inspirar,
(Ego de sensibilidade e criatividade, sempre alerta)
A tua “proeminente” pena, era bem a tua alma a falar,
A tua alma de grande pensador, em folhas liberta.

Devido a dramas que viveste na tua turbulenta mocidade
E também a tua lidação com gente da cidade e da aldeia
Irradiaste tua obra, com centelhas de versatilidade!

E quer romanceando a gente simples, quer a burguesa
Quer narrando ou poetando tua vida pessoal, tão cheia,
Passaste a “pente fino”, a essência da alma portuguesa.
1990/05/20

UM CENTENÁRIO, UMA LÉGUA, UMA FLOR ( DO MEU PREITO A CAMILO )

UM CENTENÁRIO, UMA LÉGUA, UMA FLOR


Compensador suor, uma flor p’ra Camilo, criou em nossa mão
Cansaço feliz em nosso corpo, nos dera a légua Camiliana
E nem que até tivéssemos que percorrer léguas, uma semana,
Bem o merecia, este Atlante, da nossa envaidecida Nação

Ao magistral exemplar da literatura, ao ilustre irmão
Cada flor que lhe ofertamos, cada uma em si se irmana
Co’a nossa alma, ela contém a nossa gratidão mais sana
Pela sua fertilidade de pensamento e carga de emoção.

Diferentes flores à sua memória, mas iguais em mensagem
E não superando a subtil a especial fragrância jamais
Que encerra esta casa – Museu, tão digna de nossa romagem

Portanto, nossa légua a pé e a flor, não foram por demais
Pois regressaremos com plena tranquilidade de alma da viagem
Duma justa homenagem ao alto escritor, de imorredouros anais!
1990/06/01

CAMILO, "CISNE" CEGO ( DO MEU PREITO A CAMILO )

CAMILO, “CISNE “ CEGO


Esse vaticínio de não mais veres a luz de aurora,
Tornara tão imensurável a tua já grande desilusão,
Que de pronto, mandaste todas as boas musas, embora
Achando só numa: a da morte, tua amiga de eleição

Chamaste-a a ti, dialogaste com essa maldita
Esse negra e agoirenta musa da má sorte
Essa megera, má conselheira, a da desdita
A que te ensinou, “cisne” cego, o errado norte...

Seguirias então o seu conselho, com grande apego
E nesse teu temporal direito, de grande inspiração
Um tiro daria fim a todo o desespero de teu ego...

Mataste-te e também tuas narrativas em embrião
Aquelas que um dia idealizaras, oh “cisne” cego
Agarrado à esperança, como a tábua de salvação!

1991/01/09

A CAMILO CASTELO BRANCO ( DO MEU PREITO A CAMILO )


A CAMILO CASTELO BRANCO


Por os teus amores tão violentos e controversos
Sofreste o presídio e com isso grande frustração;
Mas sem dramas, como seria o estro de teus versos?
Sem eles, seria imortal o teu amor de perdição?

Olho o tinteiro, penas óculos nesses móveis dispersos
A cadeira e janela, que tanto te convidaram à meditação
E omino o revólver, que te fez conhecer novos universos
Onde com ele, encontraste para tua cegueira, a solução.

Já ao entrar esse velho portal, mil ideias eu assimilo
E quando vejo camélias vermelhas, nesse chão cismado
Chamo-lhes Musais lágrimas de sangue, por ti Camilo

E assim tristemente esparsadas, nesse taciturno quintal
Choram Camilo o teu Egérico sangue, num acto desesperado
Com o inexorável vigor, desse maldito revólver fatal.
1990/02/21