sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A TERNURA DA NEVE ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/12/31) Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


A TERNURA DA NEVE

Ela tem beleza alabastrina, na cor!,
Mas faz negra a dor do mortal - ao a sentir;
E cor-de-rosa, torna o nume do pintor,
Do poeta e afinal todo o ser pensador,
Perspectivando o lado bom de seu cair!..

Quantas vezes o Inverno traz essa surpresa?
Essa terna lembrança, mandada pelo Pai do Céu?,
O mortal, a sente no corpo, com certeza,
Denuncia-se em mil cantos da Natureza,
E os telhados são mais lindos com esse "véu"!

Desta maneira pela manhã, ante a alvorada,
Quantos testemunhos disso, o mortal tivera?
Que até a roupa da cora, fica retesada,
Devido ao véu de neve, que adorna a noitada,
Evidência, que é complacente e severa!...

Por conseguinte essa roupa, toda, toda ela,
Lençóis, toalhas - O estendal no chão aberto -
Adquire grande encanto - uma acrescência bela -
Cada peça, torna-se uma genuína tela,
Que, no seu retesamento, tela é decerto!

E durante a noite, infelizes passarinhos,
Vítimas do frio, passaram seus tormentos;
E em querelas, voando dos galhos e ninhos,
Nessas telas de algodões e brancos linhos,
(Sem maldade) deixaram cair seus excrementos...

Se o mortal for pintor, surge-lhe um pensamento:
(Ante esses excrementos, que não valem nada)
Lembram-lhe os seus pasteis e óleos, num momento,
Que vê: castanho, branco amarelo e cinzento,
Aos montinhos, numa ou outra tela enrijada!...

E o mais curioso, que seus olhos contemplam,
(Em tais excrementos, que são p'rá roupa pragas)
É que na configuração que alguns apresentam,
Em finos rolinhos, as tintas lhe aparentam,
Tal qual, com então espremidas das bisnagas...

PAUSA
Com qualquer tinta pintaria - concerteza,
(Numa toalha ou lençol, assim retesados)
Mil e um encantos, dos cantos da natureza,
Patentes em tanto jardim, campo ou devesa,
E onde a neve deixara seus dotes cunhados!

E também belo motivo, para pintar,
Seria: a campina, hortaliças apanhando;
Com ar de felicidade, por constatar,
Que enquanto seu corpo, bem sentia o nevar,
Beijos de esperança em sua alma, ia levando!...

É que é terno, esse branco do Céu a cair!,
Mas bem dosado e atempado, nas novidades;
E na verdade, quando as vamos usufruir,
Elas ( tenras e doces far-nos-ão sorrir,
Que a tal nos levam, tão divinais qualidades!

Deste modo, as couves, alfaces ou lombardas,
(Nos guisados, nas saladas ou nos cozidos)
Onde a neve, deixara graças entranhadas,
Tornam-nos as refeições, mais bem motivadas!
Alegram-nos bem mais os órgãos dos sentidos!

E as couves que a campina agarra na braçada,
Assim tenras e que atará depois, em molhos,
Irão pôr, tanta gentinha deliciada,
E como elas alegram a nossa consoada,
Com as suas folhas, os seus troços, seus "olhos"!

Pois nesse dia, são importante elemento,
Sabendo-nos melhor, pela neve mimadas;
E quando não, assolar-nos -à desalento,
Porque lhes falta tenrura e adocicamento,
Fazendo-nos lembrar, melhores consoadas...

Mas se assim não for, (ante ânimos aquecidos)
Se houver neve espalhada, no campo ou quintal,
Diz o povo: cai neve, com os teus dons queridos,
Para saboreamos mais, belos cozidos,
Como este, que tão bem nos soube no Natal!

1990

FIM

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ÂNSIA PROFUNDA -Do livro : (a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"

ÂNSIA PROFUNDA

Se há que dominar-se a ânsia profunda,
Da forma que nosso ego, mais  aprove,
Falha à primeira, tente-se à segunda,
Que quase sempre erm êxito redunda,
E confirmá.lo-ão provas dos nove.

Por isso, como ajuda ao tratamento,
– De uma assim, tão comum patologia –
É negar-se a pintar o céu cinzento...

Porém se reincidência se pressente,
Convém perto de nós, quem nos estime;
Quem nos levante o ânimo cadente,
Vergando o nosso caprichar, doente,
Nem ele sendo rijo que nem vime!...

E para a cura, só escóis procuras!
Só pleno associar de sãs ideias!
E o investir em novas aventuras!
 
2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

DESEJO SIMPLES - ( O POEMA DA SEMANA-2010/12/29 ) Do livro: (a editar) VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"

 ENTRE MAR E LAGOA

Não quero de ventura, ter um mar,
Mas antes pequeníssima lagoa,
Que meu coração, é uma canoa,
E quer em calmaria navegar...

Aos remos, confiante se apegar,
Remando ao ritmo certo, numa boa;
E em turvas águas, nunca, nem à-toa
Mas nas que dê p'ra o fundo vislumbrar.

Não pretendo a canoagem, por desporto,
Mas um calmo remar, até bom porto,
E sem p’ra trás olhar; sem porfiar; 

Que se quem certo rema, porto alcança,
Sendo em lagoa assim, de tal bonança
É melhor de que em mar – com encrespar...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

NOSSA MÃO - NOSSA IRMÃ - Do livro: (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"

NOSSA MÃO – NOSSA IRMÃ


Ponho esperança, sempre na vanguarda,
Se é que há em minha mente, ideia nova;
E se com tal ideia, a mente me arda...
Consulto o travesseiro, em minha alcova,

Da vida, não serei filha bastarda,
Que disso ela me deu, já muita prova;
E se acaso algo bom, crer que me tarda,
Enterro o pessimismo numa cova.

também não baixarei armas em riste,
Que o destino sozinho é força vã,
E nossa própria mão, tanto lhe assiste...

Ela é nossa e assim dele, como irmã,
Deixar-nos-á o olhar alegre ou triste,
Que de nosso futuro, é guardiã.

sábado, 25 de dezembro de 2010

DIVINA HERANÇA - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/12/25 ) Do livro: ( a editar ) " DEAMBULANDO, POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


DIVINA HERANÇA

(Poema dedicado, a todas as mulheres, que se revêem em Maria)


Gratificante herança, Deus nos dá,
Que põe em nosso olhar um novo brilho,
Aquando o momento que a recebemos;
-E que tanto nos enriquece nessa hora-
Tal herança, é a chegada, dum filho,
Que nos faz sorrir, quando a rir o vemos,
Ou então a chorar, se sofre ou chora.

Um filho, é nossa vaidade e agrado,
Quer seja gordo, ou mesmo seja magro,
E haja a cor que houver, nos olhinhos dele;
Quer muito ele chore, ou seja sereno,
Tenha seu cabelo, preto ou dourado,
E gostamos do tom da sua pele,
Seja esse tom, branco, ou seja moreno.

Dispensámos-lhe afagos e carinhos,
E cantámos-lhe canções de embalar,
Com um natural instinto, de amor;
É fazer-lhe ver - a nossa intenção,
Que para sempre o iremos amar,
Que da nossa vaidade, é o autor,
E nosso feliz viver, a razão.

Nosso olhar, de grande contentamento,
Nossos sonhos, beijos e abraços
E o nosso sorriso, mais enlevado,
Vão p'ra ele, todos inteirinhos;
E p'ra ele - se nos pede os braços,
Vai também o nosso colo envaidado,
Dando assim um passeio a dois, sozinhos.

Chegámos-lhe à boca, seus alimentos:
O leite, a sopa papas de farinha,
E descascámos-lhe a fruta madura;
Para depois vê-lo a seu bel-prazer,
Com a sua delicada mãozinha,
- E num jeito, que nos causa ternura -
Levar essa fruta à boca e a comer.

E como embevecidas o banhámos,
Chegando-lhe sabão ou sabonete,
Secando-o bem docilmente depois!
Que alegria, entregar-lhe um entretém,
E colocá-lo em manta ou em tapete,
Sentindo numa brincadeira a dois,
Que nos tornámos criança, também!

PAUSA

Para grave doenças afugentar,
Levámo-lo a tomar vacinação,
E ao médico, quando tem gripe ou febre,
Ou mesmo se tem corrença ou fogagem;
Para depois, ante certa aflição,
Com remédios, tentar cura breve,
Usando grande rigor, na dosagem.

E quando a doença, se vai embora,
O nosso olhar, ganha um festivo brilho:
É que não nota dor, não vê sofrer,
O que vê é plenamente provada,
A saúde de novo, em nosso filho,
Causando-nos um tão enorme prazer,
Que dizemos ao Céu, nosso obrigada!

Por zelarmos pelo seu bem-estar,
Quer seja, suas fraldinhas mudando,
Tratando a tempo, de seus alimentos,
Lavando-lhe a roupinha com canseira,
O adormecendo ou então o mimando,
Ele dá-nos seus agradecimentos,
A nosso gosto e à sua maneira:

- Fitando-nos com ternura, no olhar,
E pondo em sua boca pequenina,
Um sorriso, que faz enaltecer-nos,
Prova-nos o quanto está satisfeito!
Patenteia o muito que nos estima!
E nós interpretamos, que é dizer-nos:
Obrigado, por tudo o que tens feito! -

Um filho, nossa razão de viver,
E que nos torna ao Céu agradecidas,
Nele está tanta da nossa esperança;
Foi um nosso ideal, realizado!
É vida, que tanto enche nossas vidas!
Foi a nossa mais rica herança!
Ele é sim, o nosso mais bem amado!

1970

FIM

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

EM VÉSPERA DE NATAL - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

EM VÉSPERA DE NATAL


Vi um jovem casal, pela matina,
Pedindo a sua esmola, a frases mansas;
Ela, com umas grandes pretas tranças,
E ele barba e tocando concertina.

Dentro de seira, em palha bem genuína,
Um seu filho – a melhor das heranças,
Mais valiosa que jóias ou faianças,
E era então, do Natal a vespertina.

Logo, tão belo quadro, nesse dia,
Lembrou-me o pai José e a mãe Maria,
P’lo menino Jesus interpolados;

E enquanto o jovem pai concertinava,
A doce e jovem mãe, lá amealhava,
Em caixa de cartão, nossos trocados.

2002/12/23

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

OH CAMÉLIAS BRANCAS... ( O POEMA DA SEMANA- 2010/12/22 ) Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


OH CAMÉLIAS BRANCAS…


Atravesso de minha terra, o coração,
Ante Inverno, displicente e contagiante;
Será que meu intuito, é querer honrar, Dante,
Levada, por um certo nume, de antemão?

Olho árvores, com a dolência, por condão…
E sem ave alguma, que me pipile ou cante;
Mas eu, por ser, da natureza, grande amante,
Vibro com ternos e alvos “trapinhos”, no chão…

São algumas camélias brancas, que caíram,
E que a marcas de desamor ‘stão destinadas,
Como tristes donzelas, sufocando ais…

Em angelicais sonhos, tanto se iludiram,
P’ra acabarem, sendo pisadas e olvidadas,
Como laivosos e inúteis trapos banais!...

1982

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

FILANTROPIA- Do livro: (a editar) " DEAMBULANDO, POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"



FILANTROPIA


Todo o que se entrega à filantropia,
Tem em si, uma parte de biólogo,
Outra de vidente, outra de bom teólogo,
Com mais de aquiescer que picardia.

(Com o sexto sentido do psicólogo,
E de Samaritano, a serventia.)

P'ra ajudar agregado ou entidade,
Muito interesse seu, deixa pendente
Ao seu próprio privado, realmente
Não dá opcional prioridade

(Porque o filantropo, à “linha da frente”,
Reduz o egocentrismo à nulidade!)
2009

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

INFÂNCIA, JUVENTUDE E VELHICE - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/12/17) Do livro: (já editado) " ESTRO DE MULHER"


INFÂNCIA, JUVENTUDE E VELHICE


Na vida, três fases irás passar!
Como num sopro: – minha avó me disse –
Da infância à juventude, é num “ar”,
E “noutro”, da juventude à velhice!...

– Nessa altura, eu (novinha e desatenta)
Duvidei, do que me dissera então;
Mas quando num “ar”, vi minha juventa,
Conclui, que ela tinha bem razão!...–

– E hoje, não sou menina que se dote,
Dos seus belos caracóis, que saudade!...
Nem bibe e o caprichoso laçarote,
Nem de ter brincadeiras dessa idade!...

Meu correr, já não tem tanta folia,
Bonecas? Foram há muito arrumadas;
E as histórias, que nesse tempo lia,
Vejo-as num baú amareladas…

Também minha avó me disse – sorrindo –
Que na infância, juventa ansiamos,
E logo que, em nós, comece florindo,
Vemos que o tempo voou e acordamos…

E que por o tempo assim ir “voando”
Seus efeitos, se irão repercutindo;
Onde em casamento iremos pensando,
Com a maturidade, nos sorrindo…

Que os filhos, que, porventura teremos,
Bem depressa frequentarão a escola;
Onde nós (no até logo) lembraremos,
Os nossos belos tempos da sacola!...

E que a infância dos filhos também,
Num “ar”, a juventude passará;
E que p’ra nós pais, a caminho vem,
A velhice – que nos arrasará…

Mas que, quando, por fim mais tarde um neto,
Nosso cansado coração “prender”…
Que, com isso, encontraremos decerto,
Lenitivo de nosso envelhecer!...

E algo ainda mais, minha avó me disse:
Que a fase, que mais saudosa a deixou,
Foi a da juventude – na velhice,
Mas que nunca mais até si chegou!

1965

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

CARIMBOS DE AFECTO - Do livro: (a editar) "DEAMBULANDO, POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

CARIMBOS DE AFECTO


De forma mais ou menos usual,
O cordial – feito em real civismo –
A astral algum, ou iluminismo,
Causará forte estorvo ou grande  mal.

Porque não tem a grave irreverência,
Dum narcisista nardo de bafio,
Ou um maquiavelismo em purulência...

Da mesura ao mimo-solicitude,
E do aperto de mão, ao franco abraço,
Se há quem os quatro cumpra, a jeito lasso,
Há quem o faça, a bem firme atitude,

E um “carimbar” de afeto, em mais beleza,
Em vez de feito, em jeito distraído,
Sempre deve fazer-se com firmeza!

2009

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

NUM FRANCO ELOGIO - ( O POEMA DA SEMANA - 2010/12/15 ) Do livro: (a editar) "DEAMBULANDO, POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"



NUM FRANCO ELOGIO

12 sílabas


Se num igual quisermos ver certa humildade
Façamos-lhe elogio, se bem merecido
E esse seu coração (talvez empedernido)
Ficará mole, e sem denunciar vaidade.

Que se sobre a valia, é-lhe uma crueldade
De alguém um olhar gélido ou emperrecido,
A nossa simpatia, põe-no agradecido
Ficando essa amizade a-dois, fraternidade.

Co'a nossa boa fé, num ótimo imperar
(Co'a nossa desprendida e abnegada acção)
Até mesmo nós próprios, iremos ganhar.

Porque o seu imolado e duro coração
Logo terminará num sensibilizar
Parecendo manteiga, no auge do verão!


1990






terça-feira, 14 de dezembro de 2010

DIF'RENÇAS DE "IRMÃOS" - Do livro: (a editar) " DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

DIFERENÇAS DE "IRMÃOS"


São dois "irmãos", porém cada um diferente,
O amor é só bondade, com um manso arder;
E a paixão, essa ardendo mais intensamente,
Por certo, mais depressa pode arrefecer.

Ele procura agir a modo complacente,
Em nós  acreditando, com doce entender;
Ela por vezes olha-nos cepticamente,
E o bem que de nós tenha, sempre mais quer ter...

Evidência de amor, creia-nos confiança,
- Basilar estrutura para o porvir
Dando-nos plena paz e firme segurança - ...

E sendo de paixão, tem certa ambiguidade
Que se chega num ar, num ar pode partir,
Poucos garantes dando de eviternidade!

1972

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

À VIDA - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/12/10 ) Do livro: (a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


À VIDA


É à vida, que nós certamente devemos,
Este mundo, para habitarmos e lidarmos;
Com belos recantos, para nos divertirmos,
As felizes recordações para guardarmos,
E os eventuais frutos, para usufruirmos.

Também os grandes momentos de inspiração,
Nas artes e nos lavores, do dia-a-dia;
(Onde o nosso ego, patenteia o seu valor)
Repudiando esse “miasma” da apatia,
E tendo orgulho, em cada gota de suor.

E por dar-nos razões para poder sorrir,
Para aplaudir e para criticar também,
(Quer seja, perante o palco ou até a tela
Ou outras múltiplas formas, que a arte, tem)
Então logo chamamos à vida de: bela!

Pelos saudáveis gozos, orgias e risos,
Além das gargalhadas, bem francas e abertas;
Livre gritar, p’ra saber que somos ouvidos,
E sepulcral silêncio, nas horas certas,
Nós ficamos à vida, muito agradecidos.

E também a epítetamos de boa mestra,
Devido a seu peculiar dom de ensinar:
Quantas vezes, com suas lições sem medida,
Ela nos corrige, num erro de pasmar,
Ou numa séria falta, então cometida?

E mostra-nos toda a grandeza da humildade,
Faz-nos a distinção do presente e passado,
Faculta-nos ideais, para nós optarmos,
Com alertas do insucesso, que há no pecado,
E o exortar à bondade, de perdoarmos.

PAUSA
É na verdade, boa mestra de bondade,
Aquela que gosta de nos tecer louvores:
Quando afugentamos sombras de tentação,
Ou dominamos as fúrias e os rancores,
Dá-nos a paz de espírito, por galardão.

E abre-nos as portas, à criatividade,
Incute-nos capricho e autoconfiança;
Lembra-nos que temos o ganhar e o perder,
Transforma o nosso desânimo, em esperança,
De no amanhã, conhecermos o renascer.

Todavia, é também à vida, que devemos,
O nosso orgulho, tantas vezes descabido,
As maldades e as injustiças, que nos fazem;
Num belo sonho, um “acordar”, desiludido,
E a dor, pelos nossos parentes que então jazem.

Toda a nossa revolta, nossa ira e fel ,
A nossa frustração, pranto e padecimento;
Horas de tédio, insucesso e nostalgia,
A doença, o gradual envelhecimento,
E morte, como destino, para algum dia...

Por isso, sendo assim mesmo o nosso viver,
Um misto de chôro, lamento e dor sentida,
Com riso, dita e prazer em magnificência,
No final, ficaremos a dever à vida:
O nosso calo, duma grande experiência!

FIM

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

PENSAMENTOS - Do livro: (a editar) " DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

PENSAMENTOS


Porque só mesmo em Dezembro,
Chegam postais, por demais?
Se em Maio, Junho ou Setembro,
Podem fazer-se “Natais”?

Até hoje não me lembro,
De saudações tão formais,
De Janeiro até Novembro,
Na graça desses postais...

E ao recolher meu correio,
Já sei que não me granjeio,
Dum cheiro a “Natal” sequer;

Por isso tanto me agrada,
Ver chegar tão santa quadra,
P’ra tais postais receber!
1993

FRUTOS DE INVERNO - ( O POEMA DA SEMANA-2010/12/09) Do livro: (Já editado) "ESTRO DE MULHER"


FRUTOS DE INVERNO

Naquelas três árvores, de carvalho manso,
(Implantadas num jardim da nossa cidade)
Centenas de passarinhos, ao fim da tarde,
Num chinfrim, fazem poisio, para remanso.

Enquanto essa cena não “pintar”, não descanso,
E como ela no Inverno, este meu estro invade!,
Mais porque tão mansas árvores, na verdade
Outras árvores me parecem– afianço!...

É que nos seus calvos galhos empoleiradas,
Estão ( depois de tanto alvoroço) caladas,
As sóbrias criaturas, muito encolhidinhas…

Logo, (assim desprovidas de folhas algumas)
Vejo os carvalhos, por Pinheiros, sem carumas
E em compensação, carregadinhos de pinhas!...
1992

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SE UM RESPLENDOR MUSAL, EM MIM INCIDE - Do livro: (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"

SE UM RESPLENDOR MUSAL, EM MIM INCIDE


Se um resplendor musal, em mim incide,
Os ramos da apatia, então esgarço;
E ponho o que é estorvo, num cabide
Entregando-me a poema-me ou a esparso.

E se é que empenhamento, me progride,
Escrevo, nem que até me doa o tarso.

Lá faço andar a musa, em sobe e desce,
-Em diligente e grácil, lufa-lufa-
E de muito bom, grado, ela aquiesce,
Nunca comigo amua nem arrufa.

E é jus a ela, que na alma me cresce,
A poesia – a egrégia flor, de estufa!

2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A CHAVE DE OURO, DO CALENDÁRIO - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO -2010/12/03) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


A CHAVE DE OURO DO CALENDÁRIO

I

Dezembro, é divícia p’ra nossos corações!
É chave de ouro, que fechará o calendário!
Causando-nos, comparativas emoções,
Às da salve-rainha, no fim do rosário!

Que concluir-se-ão, doze meses de missão,
– Ante nosso viver, de diferentes modos –
E em que o calendário morrer-nos-á então,
Para de novo, ressuscitar, para todos!

Ele, que nos doara: neves, chuvas, ventos,
Muito sol, ar puro e frescura complacente;
Graças, desgraças, muitos alentos e tormentos,
Nalgumas “caixas “ de surpresa, certamente…
II
Dia um de Dezembro – seu mês derradeiro –
É dia, que já tem carisma especial,
Que do calendário, é fiel mensageiro,
Trazendo-nos doce prenúncio de natal!

E o dia oito – da Senhora da Conceição,
Mãe das mães e padroeira de Portugal –
Traz dela, santa graça até nosso coração:
A de aumentarmos o anseio pelo Natal!

E o povo, tentará da lembrança varrer,
Suas frustrações, nalgumas horas passadas,
P’ra recordar, com grande júbilo e prazer,
Então vitórias, durante o ano, alcançadas.

Algumas montras, se vão indo decorando,
Outras se seguindo e em ritmo mais acelerado;
Com o presépio ou pinheiro simbolizando,
Esse dia, em que o povo é bem mais irmanado!

Nas igrejas, nos lares e ruas, soa o hino,
Que nos exorta ao amor, esperança e fé;
Conta-nos que nosso salvador é um menino,
E com o nome de Jesus – da Nazaré!

Fala de seu nascimento em santa humildade,
Sem cambraias, sem rendas e sem finos linhos;
Como exemplo de modéstia, p’rá humanidade,
E repúdio, pela vaidade em “pergaminhos”…


PAUSA

Hino, alertando a consciência do mortal,
Exortando-o ao altruísmo, aquando olhos postos,
Em seu semelhante, seu irmão – seu igual,
Nos estigmas de dor, em tantos rostos…

Lembrando aos pela dita, mais favorecidos,
Que em muitos lares deste mundo, nesse dia,
Cheira a bolo-rei, rabanadas e mexidos,
E noutros, cheira somente a melancolia…

E após festejada a noite da consoada,
À meia-noite, católicos fogueteiros,
Farão a vinda de Jesus anunciada,
Também a fazendo, sirenes de bombeiros!

E enquanto os pela sorte mais privilegiados,
Seus presentes alegremente vão trocando,
Os que a vida lhes oferece tristes fados,
Agarrar-se-ão a suas orações rezando…

Mas pobres e ricos no Natal fruirão,
Da riqueza da amizade e fraternidade;
E os nossos queridos mortos, tornar-nos-ão,
Bem mais intensa a lidação com a saudade!...
III
E depois dessa quadra santa então passar,
Mais uma vez o calendário morrerá;
Onde o nosso adeus, será o nosso saudar,
Já que imediatamente renascerá!

Assim o dia trinta e um, será derradeiro,
E á meia-noite, recomeçará o rosário;
Muito nos deliciando, salvas de morteiro,
Anunciando o renascer do calendário!

Em nossos olhos, centelhas de aspirações,
Nas bocas, desejos de muita e boa sorte.
E nas mentes mil projectos e inovações
Quer da criatura mais fraca ou da mais forte!

E por o calendário ‘inda ser “criança”,
Constituirá uma incógnita para o povo;
Incógnita, mas com aroma da esperança!
A esperança em todos, dum feliz ano novo!
1989

FIM

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O LIVRO DUM PRISIONEIRO GRISALHO - ( O POEMA DA SEMANA- 2010/12/01) Do livro: (a editar) " RELANCES DUM OLHAR"

O LIVRO DE UM PRISIONEIRO GRISALHO

Num desanimar, já dado em caótico
Ele medita em falha e muita gralha;
A si mesmo, se acusa, e também ralha
Num remoer do género neurótico.

Pudesse libertar-se que – despótico
E mesmo com a nuca, bem grisalha –
Iria incentivar a haver batalha
De intento progressista e patriótico!

Mas na cela sombria e bafienta
Terá de bons propósitos travar-
- Confessando-o em muito fascículo -

E sempre o mesmo sonho ele cimenta:
Poder em liberdade prestigiar,
Desse seu livro, o último capítulo!
 
2010/04/07