terça-feira, 31 de agosto de 2010

CLAMOR A ZÉFIRO - Do livro: (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"

(Após um regresso de férias)
CLAMOR A ZÉFIRO *


Já abri as janelas todas do meu lar,
Atida a ti, que tanto me adusta o Verão;
Vem Zéfiro*,  o meu rosto, hoje bem refrescar,
E fazer minha saia, parecer balão.

Vem a teu modo, meus cabelos desgrenhar,
E sussurrar-me os mandamentos de Platão;
Irás ser  causador, do meu mais casto airar,
E do cachondo olhar meu, a grande razão.

Tenho-te procurado junto ao mar e rios,
Num  grande entusiasmo e afinal dado em vão...
Vem pôr este meu corpo, todo em calafrios;

Amaina ao estival sol, sua adustação,
Que ele até me provoca, quentes arrepios.
Vá lá, vem até mim, querida viração!

* Aura frescamente agradável

1990

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A UM CINZENTO DIA DE AGOSTO - Do livro : (já editado) "ESTRO DE MULHER"

A UM CINZENTO DIA DE AGOSTO

Ai dia, que hoje acordaste tão maldisposto…
Vá lá, cata um jeito, do astral levantar!,
Esse teu capricho, até faz o vento uivar,
Tal qual um coiote, assolado por desgosto…

Pareces até ‘star zangado com Agosto:
Mexeste com o mar – fizeste-o irritar;
As gaivotas, chegarem à terra, a chorar,
E a gente, tirar guarda-chuvas, de seu posto…

Ah! Ironia, por mal dos pecados meus,
Quando as férias tinham um travo dif’rente,
Mas que véspera de despedida, meu Deus…

Quererias tu, dia, fazer-nos um teste?,
Fazer-nos valorizar mais, teu ar ridente?
Se assim é, olha que venceste e convenceste!

Póvoa do Varzim - 1992

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PRÉ-ANOITECER DE VERÃO - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO-2010/08/27 ) - Do livro: (já editado)" ESTRO DE MULHER"


PRÉ-ANOITECER DE VERÃO

Vai o dia, em si, um negro véu pressentindo,
Porque o sol, de novo, lhe parece morrer;
As estrelas e lua, nos irão sorrindo
Alegres, todas de dourado se vestindo,
Pois acham que ele, se teria ido esconder…

E eu, que da janela, gosto de contemplar,
– Nas tardes de verão, em pré-anoitecer –
A cena, de qualquer mortal, se extasiar…
Penso: Que bela razão, para a tela honrar!
Ah que estro, para a poesia enaltecer!

Longe…prédios à frente dum pinheiral
Tapando troncos, do lado direito e esquerdo,
E deixando ver, alguns da parte central,
Além – de triunfante – a ramagem geral,
Para contraste de espectáculo soberbo!

É o sol, que – cansado – vai feliz afinal,
Que atrás dos troncos, se não mostrará molengo;
Da cor do fogo, no meio do pinheiral,
Ele ostentará um encanto colossal,
Que par’cerá mesmo um património reguengo!

Um régio edifício, por verdor contrastado,
E onde o belo horrível, parece acontecer,
Que atrás dos pinheiros – muito bem repimpado –
O sol, esse soberano astro mui amado,
Se assemelha a mavioso castelo a arder!

1988

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

ÍMPETOS DE SOLITÁRIO NAUTA- ( O POEMA DA SEMANA-2010/08/25 ) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


ÍMPETOS DE SOLITÁRIO NAUTA

Sem atender à alma que lhe geme,
Por muito que a maré o enxovalhe
– Nem que a última vez, que batalhe –
Lá vai sem cobardia ao corpo extreme.

Mesmo até navegando a frágil leme
E nem que a vaga, para longe o espalhe,
Ou que a nau entre rochedos, se lhe encalhe,
Abençoado herói, que nada teme!

E às transes do mar, já então afeito,
Mas que lhe inspira medo - e assim respeito -
Mantém positivismo, sempre  estável;

P'ra ele, cada rota é uma aposta.
E perante o temor de dar à costa,
Mais lhe acresce a coragem – já notável!
2009

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

DESEJO PUERIL - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO-2010/08/20 ) Do livro: (a editar) "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


DESEJO PUERIL

Se vejo o mar, em plena calmaria,
Tendo em si ancorado, algum barquinho,
Imagino, o prazer que eu fruiria,
Aqundo bem petiz, no meu bercinho!

E p’ra bem melhor, poder avaliar
Belo retalho assim, do meu passado,
Seria se acabasse por entrar,
Nesse barquinho, então bem ancorado.

Que o mar nessa  maré de calmaria
Cantar-me-ia, em tom doce e bem baixinho
E creio que também embalar-me-ia,
Como pai ternurento e de mansinho!

E talvez mesmo até seu embalar,
Me fizesse dormir com bom sorrir;
Mas será que ele ir-me-ia despertar
bem antes da maré querer subir?

Ou será que dar-me-ia um acordar,
Ante uma sua amiga assaz devota,
Com o seu próprio canto ou seu chorar,
De empenhada e frenética gaivota?

Por isso, só a  dúvida é o meu ai,
Vetando-me de ao mar,  poder dizer:
- Que jeitinho que tens, meu "doce pai"
P’ra me embalar e eu adormecer!

Póvoa do Varzim - 1989

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

DESDE O MAR À EIRA - ( O POEMA DA SEMANA-2010/08/19) Do livro: (a editar)" RELANCES DUM OLHAR"

DESDE O MAR À EIRA

Marnotos de rasoura, em mãos ladinas,
– Vendo do sol, benesse benfazeja –
Arrastam todo o sal, que a orla beija
Atá às lineares formas das salinas.

São como em neve, mantos,  em colinas,
Há cheiro  a maresia – o sal bafeja –
A gaivota fareja e até corteja,
E algo se mastiga, em sãs disciplinas.

Os marnotos, por fim  com pás useiras
Em canastras, colocam esse sal,
E que à cabeça levam para as eiras.

Pirâmides farão, dess “cristal”
Que o mar  dá a mãos, assim ordeiras,
E em que o sol põe “verniz” - graça final!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

UM LIVRO CHAMADO MAR - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO-2010/08/13) Do livro: (a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


UM LIVRO CHAMADO MAR


Mar tu és um grande livro aberto - aos pensamentos
Onde por palavras, ao teu jeito horizontal
Expões ondas brancas, da cor que tiras a teu sal
Que olhando-as os mais sensíveis, mais atentos
Meditam em grandes heróis e seus tormentos
Ante tuas violentas torrentes de vendaval.

E tens livro aberto, ali e além sobressaídos
Entre tão acrisoladas palavras de dignos credos
Por grandes monumentos, teus enaltecidos penedos
Perpetuando assim conhecidos e desconhecidos
Onde tuas marés, fazem de champanhes festivos
Elogiando tais bravos, que venceram medos.

E quanto mais longe estão mais emoções
Esses monumentos nos fazem despertar
Que quanto mais distantes de nosso olhar
Mais encalcados são de negros mexilhões
Nos lembrando bem mais penas, mais turbilhões
Em nautas, que conheceram ou não o regressar!...

Por isso as gaivotas, em pousos costumeiros
Com a sua plangência, ternura de olhar
E entusiasmo ao esses monumentos bicar
Parecem mesmo dando beijos verdadeiros
À memória desses ancestrais marinheiros
Que tão corajosamente te souberam honrar.

E já outrora alguém deparara de si perto
Com um colossal penedo levantado
Que de gigante Adamastor, fôra chamado;
Mas não representaria já, oh livro aberto
Um louvável monumento a descoberto
A um épico nauta, do então remoto passado?



Póvoa do Varzim - 1989



Poesia participativa nos Jogos florais de Julho de 1998, do Círculo de Cultura Famalicense e contemplada com o terceiro lugar. O valor pecuniário deste prémio, (da Caixa de Crédito Agrícola) foi de 50.000$00.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

VOAM EM FRENESIM, GAIVOTAS - ( O POEMA DA SEMANA-2010/08/11) Do livro: ( já editado) " ESTRO DE MULHER"


VOAM, EM FRENESIM GAIVOTAS

Obrigada, oh mar, pelo muito que me dotas,
Facultando-me o sóbrio enleio desse canto,
– E que tu motivas, na alegria ou no pranto –
Das tuas ternas e dedicadas gaivotas!

Inconstantes, mas no fundo, a ti tão devotas!
E quanto eu deliro com seu voar, oh quanto!,
À tua volta, em louco frenesim de espanto,
Após debalde, sua debandada às lotas!...

Também eu voo, nas asas do pensamento,
E quantas, das vezes, meu frenesim é tal,
Que na verdade, co’as gaivotas me aparento…

E sabes quem me faz voar, nesta euforia?:
(Não te enciúmes mar, nem me leves a mal)
É o mavioso, o doce mar da poesia!
Póvoa do varzim - 1990

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

HOJE NA PRAIA - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO- 2010/08/06) Do livro: (a editar)" DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"



HOJE NA PRAIA
Hoje na praia, estava um lindo dia,
Com sereias de bronze, passeando,
Crianças, em alegre correria,
– Respirando da fresca maresia –
E rapaziada, entre ondas, mergulhando.

Boas piadas, amigos espalhando,
Entre o soar, dum franco gargalhar;
Parte da gente, em cura acreditando
E outra parte - sem fé - mesmo chorando,
Num dia mais de praia e de bom mar.

mas eis que a musa, quis-me segredar,
A razão da maré ‘star a subir:
É que se enraivecera muito o mar,
Por ter visto aareia a descurar,
E por tal, em romance consentir.

Sonoros tiros de ondas, atirou,
Talvez por se sentir, algo ultrajado;
E com enorme raiva, ele espumou
Até que de si perto, afugentou
Todo o gesto de amor, despudorado

E à areia chamou, leito de orgia,
– Desgostoso, de a ter por companheira –
Disse-lhe que ela em lixo, consentia
– Como papeis, espinhas e ossaria –
E que além do mais, era alcoviteira.

A areia então calada, mas atida,
À ira tenebrosa, então passar,
Acreditou que mar, perdão dar-lhe-ia,
Já que em maré vazante provaria,
Tê-la mesmo passado a perdoar!
1970/08/03

                  

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

NA PRAIA, EM AGOSTO - (O POEMA DA SEMANA-2010/08/04) DO LIVRO: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


NA PRAIA, EM AGOSTO

Gosto muito, de te ver rir assim, oh! Febo*1
– De novo a cumprir, tuas promessas de V’rão-
Chamares a Zéfiro*2 estimável amigão,
Com o teu donaire, prazenteiro e mancebo!

Rodares sobre Neptuno*3 – teu coevo –
Sobre seu colo, te pores em lassidão;
Esse encanto, te deve muita multidão,
O nume de meus primos versos, a ti devo!

Se ante teu riso, fecho os olhos com lazer,
Com minhas pupilas, mexes a bom mexer,
Ante as cores, mais pitorescas e mais belas;

Fazes lembrar-me Febo, o teu amigo Apolo*4
Razão, de outro meu imensurável consolo,
Aquando de âmago, me entrego às aguarelas!
Póvoa - 1992
*1- sol
*2- vento brando
*3- mar
*4 - Deus das artes

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

MANUSCRITOS - De quadras, para os livros: (a editar) "PENSAMENTOS (EN)QUADRADOS - I/II"

AOS ARTESÃOS DO MAR - Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"

AOS ARTESÃOS DO MAR


Nessas vossas viagens, (de incógnito regresso)
Melhor que ninguém, pintais o mar de esperança;
Que umas vezes, vos obedece, como dócil criança,
E outras, vos amedronta, como gigante possesso…

Que Deus, relance sobre vossas vidas, seu olhar!
Vos dê força e perícia capazes, em maré viva;
Porque vossa coragem, à luta se não esquiva,
Ante o sensaborismo que tem a lei do mar!...

E (já que não ansiais, medalhas de galhardia)
Que vossas redes, recebam pescado a contento;
P’ra na lota ou cais, ganhardes vosso sustento,
E comerdes sempre, sem bolor, o pão de cada dia!

Que vossa história mude, que tanto drama encerra…
E que doravante, cada vosso ala-arriba no ar,
Seja sempre um grito de louvor, ao Céu, pelo mar!
Seja sempre uma saudação, de glória à terra!

Póvoa - 1991