terça-feira, 30 de novembro de 2010

A SAUDOSISTA - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

A SAUDOSISTA

Tirou todas as fotos do caixote,
– Para melhor lembrar, certa pessoa –
E de entre tantas eis, que uma destoa:
A referente a um certo rapazote…

Além de bem-parecido, o fidalgote,
– Sensível que seria – ao certo amou-a;
Só que o tempo, a idade não perdoa,
E entretanto tornar-se-ia em velhote.

P’ra mais, era um notívago polémico,
E tendo à estroinice propensão,
Com os membros de seu grupo académico;

E logo de manhã, dava impressão:
Com enormes olheiras, quase anémico,
Além de ressacada rouquidão.

2009

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O AUTO-SUFICIENTE - ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/11/26) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


O AUTOSUFICIENTE


Provido da independente intenção,
De gerar sua própria identidade,
Não admite incentivo nem travão…

E a concepção que tem de liberdade,
Brota-lhe então da mente, num repuxo,
De autónomo criar e em sanidade

De quem, não vai em mago, nem em bruxo
Nada em seita, topar, que o bem convença,
E dos templos, só crendo em arte e luxo…

De alguém que acha, que o crime não compensa,
– Nem sequer camuflada vadiagem –
Mantendo com a própria honra, avença.

Faz mesmo a uma ideia, despistagem,
Por não ver-lhe um fator tranquilizante
Antes crendo o eterno Éden, de miragem…

Num tal pensar, levado assim avante,
– Que o torna ostracizado – ele depreende,
Que mais do que um bom ouvinte, tolerante,
Só um, de igual pensar, o compreende!

2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O SENÃO DUMA CERTA BELA - Do livro: (a editar)" RELANCES DUM OLHAR"

O SENÃO DUMA CERTA BELA…


Era moça de rosto sem pintura,
E com cabelo preso a laçarote,
Além de apresentar naturo dote,
De umas filas dentais, de grande alvura.

Do seu garbo, de grande envergadura,
Fazia parte o busto – honra ao decote;
E um par de pernas, fazendo magote,
Apodá-la de: helénica escultura.

Se a sua performance abalizada
Ao delírio de uns tantos, concorria,
A moça só por ricos tinha um fraco;

De pouco lhe valendo, mesmo nada
Pois muito dito seu, bem garantia,
Dela em cultura, não valer pataco...
2009

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O HOMEM DO VIOLINO - ( O POEMA DA SEMANA- 2010/11/24) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


O HOMEM DO VIOLINO

Sem de moço, estatuto, ter em pleno,
Franzino e com moreno visual,
Assomara, num centro comercial,
Como que por encanto, homem romeno.

E nem seu enigmático ar sereno,
Lhe tolhera a destreza manual,
Que no ombro seu, violino, já boçal,
Perante sua mão, não teve empeno:

E ei-lo a tocar num bar minha mesa,
Fazendo-me sentir que nem princesa,
Com romanesco trecho, tão bonito;

Depois entre o nervoso e o relaxe,
Fiz luz , sobre o romeno com o flash
Soltando minha máquina, o seu grito!

2004

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A SEMPRE-NOIVA - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

A SEMPRE-NOIVA


Eis a noiva – motivo de escarninho –
Vestida com traje nupcial;
Com flores feitas ramo, então formal,
E na cabeça traz um chapeuzinho.

Tudo encardido e até em desalinho,
O que p'ra si não tem o menor mal;
Nas feiras semanais, faz festival,
Sem de apreensão ter, um bocadinho.

Diz que lhe prometera, o noivo há anos,
Desposá-la e (não sendo dado a enganos)
Num recanto feiral, por ela espera;

Por isso a sempre noiva - acreditada
A partir de então,pôs-se devotada,
Ao cego devaneio da quimera!

2003

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ENGENHOSO CINZELADOR - DE ALGURES ( ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/11/19 ) Do livro: (a editar) "RELACES DUM OLHAR"


 ENGENHOSO CINZELADOR - DE ALGURES…

É daqueles que espreita bem o furo,
E derruba o marasmo com mestria,
Nem que com sacrifício, do mais puro…

Sempre que no alvo acerta a pontaria,
Não lhe escapa da boca qualquer chança,
Nem ganha esgares, de ícone-mania.

Antes, noutros projetos, lá avança,
– Com a mesma intenção escrupulosa –
Equilibrando ideia que balança…

Não usa de estratégia, já rançosa,
E sem que a constituinte algum lhe minta,
Antes é de franqueza primorosa!

Se de cada invenção – em si distinta –
Nunca a patente vende nem aluga,
Somente em tons reais, a aura pinta…

Quanto a impostos, não opta pela fuga
Mas acata-os sim, de forma amável,
Abjurando papeis de sanguessuga…

E sempre receptivo ao negociável,
Lá expõe sorrir, tão franco, quão magnífico,
Que alberga uma alma, de aço maleável,
De cidadão, e autor bem específico.

2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A MOÇA DO PINDÉRICO GOSTO - Do livro (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

A MOÇA DO PINDÉRICO GOSTO


Se ao Domingo se dava ao namorico,
A par, também mostrava sua aurama;
Quase como um peixe, com escama,
Surgia a moça, e azo ao mexerico.

Dizia-lhe mesmo, audaz mafarrico,
Que a carregar em ouro, tanto grama,
Pod’ria até ficar, corcunda dama,
Ou sofrer mesmo crises de fanico…

Sempre havia cochicho ao seu passar,
Refreando-se risada quase histérica,
Da moça par’cer, montra dum bazar;

E tida em propensão, mesmo pindérica,
Tal maneira de alguém se apresentar,
Muita da crítica era até colérica.

2009

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O PRAGMATA ( O POEMA DA SEMANA-2010/11/17 )- Do livro: (a editar)" PROPENSÕES MUSAIS"


O PRAGMATA


Tendo e mantendo em clube, voz activa,
De seus próprios valores, não descola;
Nem fecha ao social a portinhola,
Por ser de mente aberta e receptiva.

Quanto a ir pela via subversiva,
Não é por lado assim, que ele se amola;
Mostra antes ter sido de boa escola,
Que trouxe a erudição, superlativa.

Não gosta de perder numa permuta,
E a neutralidade é-lhe a preferência,,
Se envolvido o puserem em disputa;

Tudo trata, nas normas da decência,
E as prolixas propostas, nunca escuta,
Dispensando qualquer má influência.

2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A REVIRAVOLTA, DUMA DONZELA- Do livro ( a editar)"RELANCES DUM OLHAR"

A REVIRAVOLTA DUMA DONZELA


Permitiu-se a sonhar um bocado
E de um ronto-a-vestir, olhou vitrina;
Só que a mesma, num ar, dobrou esquina
Crendo esse seu olhar, já um pecado.

De uma intenção passou à execução
E à própria economia, encetou rumo,
Renegando o imódico consumo
Com uso de mais carga de razão

Deixou de acreditar, abonatório
O tipo de marca, em mercadoria;
Que com isso não mais se iludiria,
Quer em roupagem, quer em acessório

Para mais: do alfaiate ou costureira
O atraso nunca mais a enervaria –
Que cada corporal curva, honraria
Com pronto-a-vestir sim; porém de feira.

2009

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NA FEIRA DA MINHA CIDADE- ( ENTRE SEXTA E SÁBADO-2010/11/12 ) Do livro: (a editar) " RELANCES DUM OLHAR"


NA FEIRA DA MINHA CIDADE


Com toldos p’rá chuva ou sol
Há ciganos, a feirar
Grande e variado rol
Com preço, bem popular.

- Cintos, malas e carteiras
Colares e braceletes;
Anéis, brincos e pulseiras
Relógios e alfinetes -

E de todo o rol exposto
Quem entender qualidade
Pode trajar, com bom gosto,
Que encontra oportunidade.

- Gorras, bonés e chapéus,
Sapatos e sapatilhas;
Capas, túnicas e véus
Camisolas e mantilhas -

Tanto a clientela jovem
Como a de madura idade
De cima a baixo, removem
As peças, com à-vontade:

- Batas, bibes e babetes,
Gabardinas e blusões;
Saias, calças e coletes,
Jardineiras e calções. -

E no chão amontoada
Ou em bancada, por montra,
No meio da farrapada
Muito bom trapo, se encontra:

- Linhos, lycras e algodões
Estopas e tafetás;
Cordões, rendas e galões,
Poliésteres e lãs. -

Nesses vivos aparatos
Do cigano, p’ró cliente
Estão seus preços, baratos
E qualidade excelente:

- Sutiãs, cintas e golas
Cobertores e lençóis;
Mantas, robes e estolas
Vestidos e cachecóis. -

Mais artigos, nesse espaço,
Vende a etnia cigana;
P’ra outros, grande fracasso,
Na feira, em cada semana




1998

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A VENDEDORA AMBULANTE - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

A VENDEDORA AMBULANTE


Se tenho de ir às compras ao mercado,
Vejo-a vendendo artigos, numa esquina;
Sempre bolinhas traz, de naftalina,
E sempre também diz, calão pesado.

Aconselha ao melhor, tê-lo tapado,
 Com interior roupa de menina;
E levanta gravata ou meia fina,
Dizendo ao moço que ande aperaltado.

Como tal, apregoa com calão,
Reunindo à sua volta, multidão,
E quanto mais não seja, p'ra a ouvir;

É que pouco vendendo, lá resiste,
E por lugar assim,sempre persiste,
P´rá sua arte-maior, de fazer rir!


2001/08/03

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A PEDINTE DA QUARTA-FEIRA - (O POEMA DA SEMANA -2010/11/10 ) Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR""


A PEDINTE DA QUARTA-FEIRA


Quem por ela perpassa sente a urgência,
De lhe dar, moedinha confortante,
Ou seguir, sem  olhá-la um só instante,
Que pode ter, repantes de indecência...

E com imprecionante persistência,
Estende a mão (por ser pouco falante)
ou abana as pessoas, implorante,
Sem ter algum recato ou paciência.

E até alguém parado com alguém,
A pedinte interrompe p'ra o seu bem,
Colhendo às vezes disso uma censura;

Mas logo mostra o seu trunfo escondido,
Porque até à cintura, ergue o vestido,
Pondo o povo, na rua da amargura!...

2001

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O ESTADULHO, DA SEMIANALFABETA - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

O ESTADULHO* DA SEMIANALFABETA
Um dia uma semianalfabeta,
Ficou com seus patrícios, ressentifa,
Face a murmuração - tipo indiscreta,
De pôr-lhe a imagem quase denegrida…
Passou do simples traje, ao “estadulho”,
E então aos que de si, falavam mal,
Foi como em suas bocas, pôr tapulho…

Para mais, conquistou-lhes a concórdia,
Dela ter, "congruente carnadura”;
Tratando logo - e sem misericórdia,
De ignorá-los, altiva e bem segura.

E- apenas de misteres seus, refém-
Acredita, que muitas ( muitas) vezes,
Real admiração, gera desdém.

2009
*Estadão; admirável maneira de vestir

sábado, 6 de novembro de 2010

CULTO A SÃO MARTINHO - (ENTRE SEXTA E SÁBADO - 2010/11/06) Do livro ( Já editado) " ESTRO DE MULHER"


CULTO A SÃO MARTINHO


Se souberdes de ateada fogueira,
Com castanhas de boa qualidade,
E ao lado, vinho de óptima parreira,
Chamai-me, que não é cedo, nem tarde!

Eu quero ver, um rosto coradinho,
Saltando, sob essa fogueira, que arde;
Em veneração pelo São Martinho,
Nesse popular sarau de amizade!

Ver chegar-se moça livre – solteira,
P’rà chama que se está a levantar;
E colocar-se moço livre à beira,
P’ra quando alguma castanha saltar!

Testemunhar, ela a pular de susto,
Com os braços do moço a ampararem;
E calcular louvores ao magusto,
Aquando seus olhares se trocarem…

E numa mão castanhas desbulhadas,
P’ra noutra, a caneca do vinho então,
Ao bom fado ou às boas desgarradas,
Nosso bom povo, não dirá que não!

Uns a cantar, outros a fruir o gozo,
Desse animado desafio ou fado,
Tornarão o magusto mais gostoso!
O São Martinho muito mais honrado!

E (devido a alguma pimenta ou sal,
Lançados no fado ou nas desgarradas)
Dotar-se-ão de mais um gosto, afinal:
O de soltar, sadias gargalhadas!

Assim (com roda viva de gente
Expondo um indubitável prazer)
O velho, será novo, certamente,
Que o magusto, faz rejuvenescer!

E (ante fumaça ou cinza que ‘inda resta)
Dirão: até ao ano, o velho e o novo;
Personagens, desta popular festa,
Que é parte cultural, do nosso povo!


1991

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A MOÇA, DO SORRIR, DE LEVE ESBOÇO - Do livro: (a editar)" RELANCES DUM OLHAR"

A MOÇA, DO SORRIR, DE LEVE ESBOÇO


No seu potente jipe, um belo moço,
– Que certa adrenalina, em si espelha –
Lá faz co'a perspetiva, uma parelha,
Por sobre a estrada fora, troço, a troço.

E disposto a parar, para o almoço,
Fá-lo; entra no bar e olha de esguelha,
A jovem do refresco de groselha,
Que lhe exibe um sorrir de leve esboço.

A sua dentição, de molde incerto,
Não a motiva a ter sorriso aberto,
E consequente trato humano, afável;

E o moço, sem que um dito lhe antecipe,
Prnsa: - ao sair do bar e entrar no jipe,
Que o sorriso, é um bem inestimável!

2010

2010/03/12

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

POR CAUSA DUM SORRIR À GIOCONDA - ( O POEMA DA SEMANA- 2010/10/03 ) Do livro: (a editar)" DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


POR CAUSA DUM SORRIR À GIOCONDA

Faz um babado moço, sua ronda,
Deslumbrado co'o rosto e a curvatura,
Duma moça, com sorriso à Gioconda,
E solta cabeleira, em cor escura.

Mesmo que às vezes dele, ela se esconda,
Ou com raspanete lhe cause agrura,
Ele permanece  entre a ronda e a sonda,
Com versos, a roçar mesmo a loucura!

E mais que da bela, o enigma intenso,
Fomentar nele, um carnal pecadilho,
Muitas vezes, altera-lhe o bom senso;

Que aos mais lascivos versos, em chorrilho,
Induz seu sorriso – entre o leve e o denso,
No incontido e sensual “poeta-andarilho”!

2009

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"GALANTEIO" ( Marcador e lápis de cera, sobre cartão prensado)

2010


O RAPAZ DO FAISCAR, DA QUÍMICA - Do livro: (a editar)" RELANCES DUM OLHAR"

O RAPAZ DO FAISCAR DE QUÍMICA


Lá tira o automóvel da garagem,
A ver se o seu marasmo desbobina;
Se corta um pouco os voos à rotina,
Com algo extravagante da viagem.

Logo, liga a sonora aparelhagem
E abre a janela, ao cheiro a nicotina;
Porém à solidão, que o desatina
Não consegue fazer a despistagem...

Porém, eis que quase entra em paranóia,
Quando em curva apertada, uma lambisgóia,
Dá à anca, bem rente ao automóvel;

E o rapaz, com a química em faísca,
Sai, e até deixa aberto o pisca-pisca,
P'ra o número pedir de um telemóvel!...

2010