QUATRO PENAS
I
Apenas quatro penas, num só ser,
Fazem um cargo ser, demais pesado;
Quem todas não chegou ainda a ter,
I-las-á concerteza padecer,
E assim dar cumprimento ao próprio fado…
Para o corpo, serão só penas leves,
Sem em si grande peso deixar ver;
Contudo, dentro dele, pesam neves,
Como que nos causando frias febres,
E de um muito difícil combater...
Dessas penas, de assim um padecer,
O ódio, tem presença bem vincada,
Uma amizade com desvanecer,
Um grande amor, a ter de se esquecer,
E uma cruel traição, inesperada…
II
Ter-se uma amizade é ter-se riqueza,
Chegando, sem a gente atécontar;
Porém se a dada altura há briga acesa,
Uma desilusão há concerteza,
E uma pena em nossa alma, irá pesar…
Como a dor dum punhal ou dum arpão,
Causam-nos essas duras penas feias,
Conhecidas por ódio e por traição,
E que arrasam o nosso coração,
Após tanto minarem nossas veias…
Por vezes, quando o amor nos incendeia,
Faz nossa alma ficar quase que em brasa;
Mas se é gerada, ideia, contra ideia,
O férreo elo, então desencadeia,
E tudo o que era bom, eis que se arrasa…
III
Como tal ou à vista ou encobertas,
Essas penas do nosso oração,
Deixam-nos como chagas, bem abertas;
E que enorme pena, essas penas certas,
Serem de um mal depois: recordação!...
1971/01/19
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